terça-feira, 14 de setembro de 2021

No dia do lançamento da primeira edição d'O Capital

 

Há 154 anos, a revista Börsenblatt für den deutschen Buchhandel registrava a publicação da primeira edição do primeiro volume d'O Capital, de Marx (a nota 7571 na imagem abaixo; clique nela para ampliar). 
 
Por esta razão, é no dia 14 de setembro que comemoramos a publicação do livro. Pouco antes, desde a quarta-feira, 11 de setembro de 1867, os primeiros exemplares começaram a ser distribuídos pela casa editorial Otto Meissner, de Hamburg.
 
As mil cópias desta edição, com 796 páginas, foram impressas pela empresa Otto Wigands Buchdruckere, em Leipzig, naquela época centro da indústria gráfica alemã.
 
Curiosamente, a mesma página da revista trouxe o registro da publicação, em Stuttgart, de uma tradução alemã da Origem das Espécies, de Darwin (a nota 7576). Dois livros que mudariam radicalmente o modo como pensamos o mundo e nós mesmos.
 
 

 

terça-feira, 31 de agosto de 2021

Para ler a Riqueza das Nações de Adam Smith, com Maria Pia Paganelli


A Riqueza das Nações é daqueles livros que todo mundo comenta, mas pouca gente leu de verdade. A partir de agora, há uma boa razão pra isso deixar de ser assim. É que acaba de ser lançado o guia para leitura da Riqueza das Nações preparado pela minha amiga querida, Maria Pia Paganelli!
 
Intérprete aguda e original de Smith, Maria Pia é professora da Trinity University e presidente da International Adam Smith Society
 
Seu guia apresenta, capítulo a capítulo, os principais conceitos que estruturam o livro de Adam Smith, situando suas ideias em seu contexto original e apontando aquilo que em sua obra fala ao nosso tempo.
 
Parte do livro foi elaborada durante sua estadia como professora visitante na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2016, quando lecionou um curso sobre a Riqueza das Nações para alunos do Programa de Pós-graduação em Economia do CEDEPLAR-FACE-UFMG, o que é uma razão adicional para eu ter ficado muito contente de ver o texto publicado.
 
Aviso: o fato dela ter incluído meu nome nos agradecimentos é pura generosidade de amiga. A verdade é que, independentemente da nossa amizade, eu só posso recomendar enfaticamente a leitura do guia pra quem quiser estudar e conhecer em detalhe a obra de Smith. O meu exemplar, claro, já está encomendado.
 
A propósito, quem quiser conhecer mais sobre a leitura de Smith proposta pela Maria Pia, sugiro este artigo escrito no mesmo período de sua visita e apresentado numa mesa do Seminário de Diamantina de 2016. Publicado na revista Nova Economia do ano seguinte, está em acesso aberto e é uma boa discussão do "por que ler Smith depois de tanto tempo?".

Este outro artigo, publicado no número mais recente da mesma revista e tambem em acesos aberto, trata do tema de sua apresentação num outro Seminário de Diamantina, o de 2014, assunto que frequentou nossas conversas por algum tempo.
 
Parabéns, Maria! E boa leitura pra todos!
 
 

 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

O capitalismo no Brasil

 

Vocês devem se recordar o recente apagão do servidor do CNPq, que tirou do ar os currículos Lattes de todo mundo. Reza a lenda, e as más línguas confirmam, que ele foi causado pelo meu colega João Antonio de Paula. Tudo teria acontecido quando o João tentou atualizar seu currículo, lançando de uma só vez sua produção acadêmica no período da pandemia, o que terminou travando o sistema.

Não, claro que não é verdade. Quem conhece o João sabe que ele não pilota computadores, nem dá bola pro seu Lattes. Mas, se non è vero, è ben trovato. De fato, o João Antonio andou aproveitando os longos meses de isolamento para tirar da gaveta, rever e publicar vários trabalhos, não só artigos, mas também livros. 
 
O mais recente destes livros eu acabei de descobrir. Digo que descobri, literalmente, porque mesmo sendo colega e amigo do João ando tendo dificuldades de acompanhar as suas publicações. Trata-se deste O Capitalismo no Brasil, que a editora apresenta como "uma visão de conjunto da economia brasileira e de suas origens coloniais até a contemporaneidade". 
 
Conheci uma versão anterior e manuscrita deste texto, que é uma tentativa de dar conta da natureza específica do capitalismo no Brasil, de pensar a formação econômica brasileira, mas sem privilegiar o ponto de vista da sucessão, êxitos e fracassos de políticas econômicas, como teimam em fazer tantos economistas. Ao contrário, adota o ângulo de análise das condições estruturais que definem nosso capitalismo, suas contradições e possibilidades. 
 
Agora, publicado em livro, o ensaio pode e deve ser lido por quem queira pensar sobre o tema, que é incontornável. O volume pode ser encontrado no site da editora e, é claro, nas "boas casas do ramo". 
 
Como notícias boas também costumam andar juntas, vou aproveitar esta postagem para divulgar mais uma novidade. O podcast ipsis litteris, editado pelo meu outro colega, Alexandre Mendes Cunha, divulgou recentemente o seu segundo episódio: desta vez, é uma entrevista com o João Antonio. O tema da conversa é bem diverso do assunto tratado no livro mas, nem por isso, menos interessante: são as consonâncias entre as obras de Rousseau e Marx, assunto de um artigo que o João publicou na Revista da SEP há alguns anos.  
 
Divirtam-se!
 

 

terça-feira, 27 de julho de 2021

José Arthur Giannotti (1930-2021)

 

Estive com Giannotti uma só vez. Foi no final de 1988, se a memória não me trai. Recebeu-me em seu gabinete no Cebrap, a pedido de Francisco Iglésias, depois que lhe enviei um projeto que fiz pensando em me candidatar ao doutorado na USP sob sua orientação. Conversamos bastante.
 
Ele não se entusiasmou com o projeto. Não acho que fosse ruim, mas ele tinha lá suas razões. Propôs, em contrapartida, que eu ingressasse no programa de quadros do Cebrap, criado poucos anos antes. Sugeriu que eu me dedicasse a ler Platão e me abstivesse de Marx por um tempo.
 
Ponderei a proposta e, por razões que tinham mais relação com circunstâncias pessoais, acabei decidindo seguir outro rumo. De todo modo, Trabalho e Reflexão seguiu sendo um texto importante para mim por muito tempo. Os livros posteriores, ao contrário, nunca foram.
 
Sua morte (e, antes dele, a do Ruy Fausto) encerra um certo ciclo da recepção de Marx no Brasil, especialmente entre os filósofos, mas não só. Balanços ficam para outra hora, que aqui se trata só de evocar e registrar uma breve memória pessoal, ainda sob o efeito da notícia. 
 
RIP.
 

 

domingo, 11 de julho de 2021

Podcast: uma conversa sobre Adam Smith e o iluminismo escocês

 

Há alguns dias comentei em redes sociais a respeito de um artigo sobre o contexto social e intelectual em que Adam Smith desenvolveu suas ideias, o Iluminismo escocês. O artigo estava completando 15 anos de publicação e, eu dizia, penso que "envelheceu bem". 
 
Nesta semana, meu colega e amigo, Alexandre Mendes Cunha, me convidou para gravar o primeiro episódio de seu novo podcast, ipsis litteris, e a conversa girou justamente em torno daquele texto, das razões que me levaram a escrevê-lo e do porquê penso que continua tendo algum interesse.
 
A proposta do podcast é esta, a de apresentar as questões e motivações que deram origem a alguns dos textos que estão na bibliografia da disciplina História do Pensamento Econômico, disciplina que lecionei na graduação por muitos anos e que, mais recentemente, tem sido lecionada pelo Alexandre. Por esta razão, ele está voltado principalmente para os alunos de Economia da UFMG, mas acredito que os temas tratados ali serão de interesse para um público mais amplo. 
 
A propósito, é uma feliz coincidência que o podcast tenha sido lançado justamente na semana em que a UFMG anunciou sua nova política de divulgação científica
 
A nossa conversa está disponível no site do podcast. Pra quem se interessar em ler o texto, ele pode ser encontrado no RePEc:
 
Mais uma vez, agradeço ao Alexandre pelo convite e desejo vida longa ao ipsis litteris.
 
 
 
 

sábado, 24 de abril de 2021

30 anos de Nova Economia

Há um novo número da revista Nova Economia na praça: é um número especial sobre armadilhas de renda média (middle income traps) com colaborações de autores da África do Sul, Austrália, Coréia do Sul e Índia, além de colegas do Brasil. São artigos derivados de apresentações feitas no seminário sobre Development, lock-ins, traps and catch up: India, China, South Africa, South Korea and Latin America, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em julho de 2019.

Com este número completa-se o volume 30 da revista e, com ele, os primeiros 30 anos de sua existência. Nova Economia foi lançada em 1990, quando João Antonio de Paula, o principal responsável por sua criação, era chefe do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. Tinha a intenção de ser uma revista plural e interdisciplinar, que acolhesse temas e abordagens diversificados que, indo além dos limites da teoria econômica, auxiliassem a compreensão dos fenômenos econômicos. Compromissos que a revista procurou preservar ao longo de sua existência, apesar da frequente intolerância e exclusivismo teóricos e de intensa especialização que marcaram estas décadas.

Fui secretário editorial da revista entre 2000 e 2006, e seu editor entre 2006 e 2009, e continuo participando de seu comitê editorial. Sinto uma incontida satisfação de ter tomado parte em sua reformulação gráfica e sua modernização editorial. Foi um período de vencer desafios: buscar a internacionalização -- autores, pareceristas e leitores ligados a instituições de outros países --, o aumento da periodicidade, o início da publicação em meio eletrônico, a inclusão da revista  em diferentes indexadores e bases bibliográficas, e muito mais.

Só quem viveu experiência semelhante sabe o trabalho e dedicação exigidos para levar a frente um projeto editorial como este, fora do eixo Rio-São Paulo e em condições muitas vezes adversa. Isso só reforça a minha gratidão por aqueles que apoiaram e participaram do trabalho desde a criação da revista: colegas da universidade, autores, pareceristas, revisores, editores e secretários editoriais, diagramadores, indexadores, gráficos, programadores visuais, artistas convidados, patrocinadores e tantos outros. Sim, tenho muitas razões para estar contente de ter participado desta história e para seguir participando.

Fico mais contente ainda de ver a revista prosseguir sua trajetória bem sucedida nas boas mãos do Gustavo Rocha e dos que tomam parte da equipe editorial -- atualmente, o João Prates Romero e o Alexandre Stein --, sem falar na colaboração da Tereza Carvalho a frente da curadoria de arte. Não vou dizer que é a melhor revista de economia do país porque sou mineiro e, sendo assim, é melhor afetar modéstia. Além de tudo, tendo participado intensamente deste projeto, sou suspeito pra afirmar qualquer coisa. Mas, convenhamos, ela é. Uma coisa faço questão de dizer: como é linda! Nem parece revista de economista.

Vida longa para a Nova Economia!

 


 

 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Ciro Flávio Bandeira de Mello

Foi só ontem que, por meio da minha amiga Tereza Bruzzi de Carvalho, fiquei sabendo desta homenagem muito linda dos colegas do Depto. de História da UFMG ao saudoso Ciro Flávio Bandeira de Mello, o fundador e, por muito tempo, a alma da revista Varia Historia.


 

Ciro foi professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, a Fafich, por muitos anos e uma figura humana inesquecível por sua sabedoria e erudição, sua simplicidade e simpatia. As longas horas de conversa no bar do Jaime, convenientemente instalado ao lado das livrarias Ouvidor e Quixote, vão ficar pra sempre comigo. 

Como ficará a memória de sua luta para viabilizar a Varia Historia, onde tive o prazer de publicar um artigo em 1997, em parceria com o Rodrigo Simões, sobre Belo Horizonte (um tema caro a nós todos). O artigo foi publicado num número especial sobre os 100 de fundação da capital. Editado pelo Ciro e pelo João Antonio, este número está com acesso aberto no site da revista e tem muitas preciosidades.

 

Ciro Flávio Bandeira de Mello

 

domingo, 14 de março de 2021

Sobre a nova edição do livro Economia da ciência, tecnologia e inovação

Recebi com enorme satisfação o convite dos organizadores para participar da segunda edição, revista e ampliada, do livro Economia da ciência, tecnologia e inovação: fundamentos teóricos e a economia global, editado pelos meus colegas e professores Márcia Rapini, Janaina Ruffoni, Leandro Alves Silva e Eduardo da Motta e Albuquerque.

Lançado originalmente em 2017, por iniciativa de pesquisadores do Cedeplar-UFMG, o livro reuniu contribuições de autores ligados a diferentes instituições universitárias. Oferecia uma apresentação de um amplo leque de temas sobre a relação entre o progresso tecnológico e o desenvolvimento econômico. Inspirados numa abordagem schumpeteriana ou evolucionária, os autores dos quinze capítulos da obra buscavam sistematizar os diversos aspectos daquela relação, além de abordar alguns tópicos de fronteira nos estudos da área. Paralelamente, o volume pretendia servir como livro-texto de apoio ao ensino de disciplinas de economia da ciência e tecnologia ou de economia industrial nos cursos de graduação e pós-graduação, cobrindo assim uma lacuna sentida pelos professores destas disciplinas (ver a resenha de Antonio Carlos Diegues sobre esta primeira edição, publicada na Revista Brasileira de Inovação).

Nesta segunda edição, outros dez capítulos foram adicionados aos originais, agora revistos a luz da experiência de seu uso desde o lançamento da primeira edição. O volume passou a integrar a coleção População & Economia, editada pelo Cedeplar, e reúne agora vinte e cinco textos, que têm os mesmos objetivos que pautaram a edição anterior. O lançamento foi realizado em 23 de fevereiro e contou com a participação inspirada do Prof. Clélio Campolina Diniz (o registro em vídeo do evento está disponível no youtube).

Entre os novos capítulos, os organizadores decidiram incluir um artigo que publiquei há algum tempo e que, no juízo destes colegas, continua sendo útil. Ele procura localizar o surgimento da teoria evolucionista "a partir de pesquisas empíricas sobre inovações tecnológicas e transformações institucionais em diferentes países, que deixaram claro as dificuldades de reconciliar os princípios centrais das teorias convencionais com os resultados obtidos nessas investigações". Em paralelo, apresento as principais características da abordagem evolucionista em economia, comparando-as com as de abordagens ditas sistêmicas adotadas em outras ciências.

O livro está com acesso aberto no site do Cedeplar. Meu capítulo -- A economia evolucionista: um capítulo sistêmico da teoria econômica? -- também pode ser facilmente obtido por meio do RePEc, a exemplo de todos demais, basta só seguir este link e clicar em download.
 
Boa leitura.
 
 
Economia da ciência, tecnologia e inovação: fundamentos teóricos e a economia global


 

Nos 138 anos da morte de Marx

Os últimos dias de Karl Marx foram marcados pelo sofrimento causado pela morte de Jenny, sua filha mais velha, em 11 de janeiro daquele ano de 1883, e pelas dores provocadas pela doença que o acometeu.

Rouco a ponto de mal poder falar, sem apetite e com dificuldade de engolir alimentos e, finalmente, com um abcesso no pulmão, ele permaneceu em seu quarto sem poder trabalhar, lendo romances franceses e catálogos de editores.

Numa carta escrita a Friedrich Sorge, Engels contava que naquelas semanas, toda vez que ele se dirigia à casa de Marx para visitá-lo, temia, ao chegar em sua rua, encontrar as cortinas da casa abaixadas em sinal de luto.

Numa quarta-feira, 14 de março, há exatos 138 anos, ele chegou à casa de Marx por volta das 14h30 e encontrou a família em lágrimas. Helene Demuth subiu ao quarto para verificar se Marx poderia receber o amigo e o encontrou adormecido. Retornou a sala e convidou Engels a subir. Quando entraram no quarto, encontraram Marx sem pulso ou respiração: "num intervalo de dois minutos ele havia falecido, em paz e sem dor".

O funeral foi realizado três dias depois, no cemitério de Highgate. Marx havia pedido uma cerimônia simples e restrita a um pequeno grupo. Foi sepultado no mesmo túmulo em que Jenny, sua esposa. Compareceram apenas onze pessoas, que ouviram o discurso que Engels pronunciou a beira da sepultura e que terminou com estas palavras: "Seu nome perdurará através dos séculos, assim como sua obra". Engels nunca esteve tão certo. 

Marx não dirigiu nenhuma revolução vitoriosa, não criou nenhum partido duradouro, nem sequer concluiu a obra teórica a qual dedicou seus melhores anos de vida. Seu legado, porém, continua vivo até hoje, porque as questões que formulou continuam sendo as questões incontornáveis do nosso tempo e não há razão alguma para supor que, para enfrentá-las, podemos renunciar a sua reflexão. 

Viva Marx!

 

Karl Marx 1882
A última foto de Marx, feita em Argel, em fevereiro de 1882.


domingo, 31 de janeiro de 2021

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