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domingo, 14 de março de 2021

Sobre a nova edição do livro Economia da ciência, tecnologia e inovação

Recebi com enorme satisfação o convite dos organizadores para participar da segunda edição, revista e ampliada, do livro Economia da ciência, tecnologia e inovação: fundamentos teóricos e a economia global, editado pelos meus colegas e professores Márcia Rapini, Janaina Ruffoni, Leandro Alves Silva e Eduardo da Motta e Albuquerque.

Lançado originalmente em 2017, por iniciativa de pesquisadores do Cedeplar-UFMG, o livro reuniu contribuições de autores ligados a diferentes instituições universitárias. Oferecia uma apresentação de um amplo leque de temas sobre a relação entre o progresso tecnológico e o desenvolvimento econômico. Inspirados numa abordagem schumpeteriana ou evolucionária, os autores dos quinze capítulos da obra buscavam sistematizar os diversos aspectos daquela relação, além de abordar alguns tópicos de fronteira nos estudos da área. Paralelamente, o volume pretendia servir como livro-texto de apoio ao ensino de disciplinas de economia da ciência e tecnologia ou de economia industrial nos cursos de graduação e pós-graduação, cobrindo assim uma lacuna sentida pelos professores destas disciplinas (ver a resenha de Antonio Carlos Diegues sobre esta primeira edição, publicada na Revista Brasileira de Inovação).

Nesta segunda edição, outros dez capítulos foram adicionados aos originais, agora revistos a luz da experiência de seu uso desde o lançamento da primeira edição. O volume passou a integrar a coleção População & Economia, editada pelo Cedeplar, e reúne agora vinte e cinco textos, que têm os mesmos objetivos que pautaram a edição anterior. O lançamento foi realizado em 23 de fevereiro e contou com a participação inspirada do Prof. Clélio Campolina Diniz (o registro em vídeo do evento está disponível no youtube).

Entre os novos capítulos, os organizadores decidiram incluir um artigo que publiquei há algum tempo e que, no juízo destes colegas, continua sendo útil. Ele procura localizar o surgimento da teoria evolucionista "a partir de pesquisas empíricas sobre inovações tecnológicas e transformações institucionais em diferentes países, que deixaram claro as dificuldades de reconciliar os princípios centrais das teorias convencionais com os resultados obtidos nessas investigações". Em paralelo, apresento as principais características da abordagem evolucionista em economia, comparando-as com as de abordagens ditas sistêmicas adotadas em outras ciências.

O livro está com acesso aberto no site do Cedeplar. Meu capítulo -- A economia evolucionista: um capítulo sistêmico da teoria econômica? -- também pode ser facilmente obtido por meio do RePEc, a exemplo de todos demais, basta só seguir este link e clicar em download.
 
Boa leitura.
 
 
Economia da ciência, tecnologia e inovação: fundamentos teóricos e a economia global


 

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Claudio Napoleoni (1924-1988), ou a falta que uma foto faz

Destas coisas curiosas, mas que, talvez, só sejam curiosas pra mim.

Os que são da minha geração e estudaram economia provavelmente leram alguma coisa de Claudio Napoleoni (1924-1988), mesmo que não se lembrem disso. Seus livros -- Smith, Ricardo e Marx, O valor na ciência econômica, Curso de economia política, O pensamento econômico no século XX, Lições sobre o capítulo sexto -- foram traduzidos para o português ainda no final dos anos 1970, portanto, a tempo de serem adotados nas disciplinas de HPE e de Economia Política dos cursos de graduação e pós-graduação daquela época e constam das referências de boa parte do que foi publicado no mesmo período por brasileiros que pesquisavam estas áreas.

Não era hábito, então, o que se tornou costumeiro mais tarde: publicar, na segunda orelha do livro, uma foto e uma pequena biografia do autor do volume. De fato, aquelas traduções sequer tinham orelhas. Pior, a edição brasileira de Smith, Ricardo e Marx, publicada pela Graal, notabilizou-se pela encadernação barata, feita com cola e sem costura, garantia de que as páginas se soltariam com pouco uso, e pelos inúmeros erros de composição, com linhas inteiras omitidas ou trocadas entre parágrafos de páginas distintas.

Voltando ao ponto: na falta da orelha e da foto do autor, eu nunca soube qual seria a pinta do Napoleoni. Naturalmente, isso não me impediu de imaginá-lo todo este tempo. Para mim, o nome de Napoleoni evocava a imagem de Norberto Bobbio. Claro, eu sempre soube que eram duas pessoas diferentes, com ideias diferentes, mas imaginava o primeiro parecido com o segundo. E, pensando bem, esta associação tinha lá suas razões de ser: ambos eram autores italianos, ambos foram muito traduzidos e publicados no Brasil naquele período, ambos organizaram dicionários importantes (um de economia política, o outro de política) e, finalmente, ambos foram membros do Senado italiano. A diferença é que Bobbio esteve no Brasil, salvo engano em 1983, e por isso sua foto circulou na imprensa, ao passo que Napoleoni, até onde sei, nunca veio ao país, onde seguiu sendo uma figura intelectualmente conhecida, mas dotada de um semblante que podia apenas ser imaginado (não havia google images naquela época, é bom lembrar).

Hoje, meio ao acaso, deparei com o anúncio do relançamento de um livro dele -- Discorso sull’economia politica, que, até onde sei, nunca foi traduzido para o português -- e, bingo! Lá estava a foto do autor, em preto e branco, com um par de óculos de armação grossa que não escondiam seu olhar meio sério, meio irônico, meio bonachão. Sem dúvida, uma figura muito diferente da que eu imaginei por tanto tempo. Diria, pra resumir, que Napoleoni saiu-se mais aprumado e simpático, bem melhor que a encomenda.

Não sei se, a esta altura, alguém ainda lê Napoleoni no Brasil. Eu continuo indicando seus livros em disciplinas que leciono, mas não me iludo sobre isso, que não é garantia sequer de que meus alunos o leiam. Vá saber...

O fato é que, mesmo ali onde não compartilho da sua interpretação sobre algum assunto ou passagem, seus textos continuam tendo algo a me dizer. No mínimo, ajudaram a conformar algumas perguntas que ainda me acompanham. E, agora, revelada a estampa do autor, vão estar associados à verdadeira figura de quem os escreveu. 

Claudio Napoleoni (1924-1988)

terça-feira, 2 de julho de 2019

Ortodoxos e heterodoxos em economia

Diz-se que os economistas dividem-se em ortodoxos e heterodoxos. Isso muita gente sabe.

Há quem pense que a divisão é uma criação recente e tipicamente nacional. Enganam-se. É antiga e continua presente em outras partes do mundo.

Este achado do François Alisson (@F_Alisson) é precioso: uma definição proposta em 1863 por P.-O. Protin em seu Les économistes appréciés, ou Nécessité de la protection (Paris: Dentu, 1863).
Diz o seguinte:

"Il y a des économistes qui se sont arrêté à Adam Smith, Ricardo, Malthus , Rossi, J.-B. Say, et qui disent : la science est faite ; nous n'avons plus qu'à en répandre les bien faits, à la vulgariser, en la rectifiant sur quelques points secondaires. Ce sont les fidèles ou orthodoxes.
D'autres, plus hardis ou plus aventureux, ne consentent pas à s'en tenir aux théories des maîtres, parce qu'ils les trouvent insuffisantes, défectueuses même en plus d'un endroit. Ce sont les infidèles ou hétérodoxes. Ce n'est pas arbitrairement que nous établis sons cette distinction dans l'École : ce sont les économistes eux-mêmes qui se sont ainsi dé finis."

Mal e porcamente traduzido (alguém corrija o que couber, por favor):
"Há economistas que pararam em Adam Smith, Ricardo, Malthus, Rossi, J.-B. Say, e que dizem: a ciência está feita; temos apenas que espalhar os benefícios, popularizá-los, corrigindo-os em alguns pontos secundários. Estes são os fiéis ou ortodoxos.
Outros, mais ousados ou mais aventureiros, não consentem em se ater às teorias dos mestres, porque as consideram inadequadas, e até mesmo defeituosas em mais de um aspecto. Eles são os infiéis ou heterodoxos.
Não é arbitrariamente que estabelecemos essa distinção na Escola: são os próprios economistas que se definiram assim."

É ou não é uma beleza? Link pra quem quiser seguir o fio.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Previsões, ciência e economia

A maioria das pessoas não hesitaria em reconhecer como uma das características distintivas do conhecimento científico o seu sucesso preditivo, a capacidade que a ciência tem de produzir previsões corretas sobre o comportamento do mundo a partir de um conjunto determinado de leis ou hipóteses.

Costumo tomar este ponto como mote para dar início aos cursos de metodologia da economia que vez por outra leciono. A provocação consiste em fazer com que os alunos vejam que, por este critério, dificilmente poderíamos considerar a economia uma ciência, pois são frequentes, reiterados e excessivos os erros das projeções feitas com base nos mais "renomados" modelos econométricos.

O objetivo da provocação não é pura e simplesmente desabonar a economia, mas por em questão o modo como nos acostumamos a pensar a ciência, a definir o que é científico ou não, mostrando que boa parte dos critérios usualmente adotados para definir o que é ciência não se sustenta, não fica de pé após um exame, mesmo que ligeiro. Se a economia tal como é praticada é ou não uma ciência, continua a ser uma boa questão, mas a resposta não pode prescindir de uma definição segura do que torna um conhecimento qualquer passível de ser considerado científico. E, ao contrário do que pensam o senso comum e os economistas, esta questão está longe de ter uma resposta simples ou clara, que é o que procuro mostrar ao longo do restante do curso.

Mas, volta e meia alguma aluna mais esperta esbarra na pergunta que não quer calar: se a economia fracassa tanto do ponto de vista preditivo, por que é que os economistas continuam usando seus modelos com fins preditivos? E, mais ainda, por que é que empresas, bancos e governos continuam empregando economistas (mas também engenheiros, físicos e matemáticos) pra produzirem previsões sobre, digamos, a taxa de juros ou de câmbio que prevalecerá daqui a dois ou três anos? (isso pra ficar em exemplos de previsões corriqueiras e aparentemente pouco ambiciosas, mas em relação às quais os erros são abundantes e habituais).

A resposta a estas questões renderia um outro curso, que eu nunca ofereci. Ou, melhor ainda, renderia um amplo projeto de pesquisa. Não pude deixar de pensar nisso quando, hoje, esbarrei neste texto do Arrow, um trecho que eu ainda não conhecia e que está citado neste post do Lars Syll. Ele poderia muito bem servir de mote pra um curso ou pesquisa deste tipo:
"It is my view that most individuals underestimate the uncertainty of the world. This is almost as true of economists and other specialists as it is of the lay public. To me our knowledge of the way things work, in society or in nature, comes trailing clouds of vagueness (…) Experience during World War II as a weather forecaster added the news that the natural world as also unpredictable. An incident illustrates both uncertainty and the unwillingness to entertain it. Some of my colleagues had the responsibility of preparing long-range weather forecasts, i.e., for the following month. The statisticians among us subjected these forecasts to verification and found they differed in no way from chance. The forecasters themselves were convinced and requested that the forecasts be discontinued. The reply read approximately like this: ‘The Commanding General is well aware that the forecasts are no good. However, he needs them for planning purposes.’"



sábado, 21 de maio de 2016

The History of Economic Thought Website está de volta


Criado por Gonçalo Fonseca em 1998, The History of Economic Thought Website foi das melhores coisas feitas no tempos heróicos da internet, quando a gente se encantava com a simples possibilidade de encontrar versões eletrônicas de textos que sempre víamos citados mas que dificilmente estavam disponíveis nas bibliotecas brasileiras. Depois do pioneiríssimo McMaster Archive for the History of Economic Thought, desenvolvido por Rod Hay, foi o meu site predileto entre os recursos on line para estudar economia.

Os tempos mudaram. Importar livros ficou incrivelmente mais fácil e rápido. Vieram as edições em pdf, os e-books, alguns deles disponíveis a um clique mesmo pra quem não tiver um tostão. E, finalmente, surgiram recentemente as versões on line de manuscritos guardados em arquivos espalhados pelo mundo. Tudo isso tornou possível aquilo que dez ou vinte anos atrás era simplesmente impensável: pesquisar sobre a história do pensamento econômico em qualquer parte do mundo, praticamente sem ter que sair de sua casa ou do escritório.

Apesar dessas mudanças, o site do Gonçalo Fonseca continua uma ferramenta útil e bastante confiável para estudantes que queiram começar a se orientar nesse mundo de autores e livros. Ele é uma espécie de repositório de links para textos de (e sobre os) autores que marcaram a história das ideias econômicas, todos eles disponíveis gratuitamente na internet. Mais que isso, é um esforço de apresentar de modo breve a biografia e as ideias de mais de mil diferentes autores, situando-os no contexto das várias escolas de pensamento e dos temas e controvérsias que marcaram a trajetória da disciplina.

Nostalgia à parte, é uma excelente notícia saber que o website está novamente disponível para consulta. O relançamento tornou-se possível por meio de um apoio dado pelo Institute for New Economic Thinking (INET). O conteúdo do site ainda está sendo atualizado, mas ninguém que seja minimamente interessado em economia vai se arrepender se gastar um pouco de seu tempo passeando pelas suas milhares de páginas. Divirtam-se!


segunda-feira, 3 de junho de 2013

IV Ciclo de Seminários em Metodologia e História do Pensamento Econômico

A exemplo do que aconteceu nos últimos três semestres, realizaremos em 2013 mais um Ciclo de Seminários em Metodologia e História do Pensamento Econômico
Trata-se do quarto evento de uma série organizada pelo Cedeplar-UFMG, através do seu Grupo de Pesquisa em Metodologia e História do Pensamento Econômico, e que visa promover uma maior integração entre os pesquisadores brasileiros das áreas de HPE e Metodologia da Economia, além de consolidar o Cedeplar como locals de referência no Brasil para todos aqueles envolvidos nessas duas áreas de pesquisa.

Estão previstas três sessões, que serão realizadas na manhã e tarde do dia 12 de junho (quarta-feira):

9h30 - 11h30
Convidado: Prof. Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS)
Tema: A gênese do desenvolvimentismo latino-americano
Texto-base da apresentação: Gênese e precursores do desenvolvimentismo no Brasil

14h00 - 16h00
Convidado: Prof. David Dequech (Unicamp)
Tema: As instituições da economia como disciplina e instituições na economia como objeto
Texto-base da apresentação: será divulgado oportunamente

16h15 - 18h15
Convidado: Prof. Pedro Garcia Duarte (USP)
Tema: Economics at MIT and its graduate networks: the early years
Texto-base da apresentação: será divulgado oportunamente






Os seminários serão abertos aos interessados e acontecerão no auditório 4 da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (ver o mapa). O evento conta com o apoio financeiro do Programa de Apoio Institucional a Eventos da UFMG (PAIE).

PS em 15/06/13: confira abaixo um pequeno registro fotográfico do seminário:


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Isaac Rubin e a história do pensamento econômico

Na área de economia política, um dos lançamentos aguardados no ano de 2013 é o da tradução brasileira de Istoriya Ekonomicheskoi mysli, obra do grande economista russo, Issac Rubin. O volume, um manual de história do pensamento econômico para ensino universitário, foi publicado em 1926  e reeditado algumas vezes nos anos seguintes. Tinha originalmente 39 capítulos que, na segunda edição, foram acrescidos de mais um. Eles tratam do mercantilismo e da fisiocracia, do pensamento econômico de Adam Smith e David Ricardo, chegando até ao período do declínio da Escola Clássica. Foi originalmente pensado para ser lido e estudado juntamente com um volume de Clássicos da economia política do século XVII até meados do século XIX, uma compilação organizada por Rubin de textos de economistas clássicos e pré-clássicos.

O lançamento dessa tradução para o português vem sendo preparada pela Editora da UFRJ, tendo a frente do projeto a Professora Maria Malta e o saudoso Professor Carlos Nelson Coutinho, que faleceu no ano passado, antes de ver o livro publicado. Em 2012, eles nos convidaram - a mim e ao meu colega e amigo, João Antonio de Paula - para escrever uma apresentação do livro. O convite foi aceito de pronto e o resultado é esse texto que acaba de sair na série de Textos para Discussão do Cedeplar-UFMG:
João Antonio de Paula, Hugo E. A. da Gama Cerqueira. Isaac I. Rubin e sua história do pensamento econômico. (Texto para discussão, 469) Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2013.
Frontispício da edição russa de 1929 da
História do Pensamento Econômico.
O texto, ao qual é possível ter acesso através do link acima, faz uma breve exposição sobre a biografia de Rubin. Em seguida, discute as tentativas de Karl Marx de escrever uma história crítica da economia política e, à luz desses elementos, analisa o sentido do esforço teórico de Rubin em sua História do Pensamento Econômico.

Lembro que a importância de Isaac Rubin e de seu livro sobre A teoria marxista do valor foram o tema de um dos primeiros comentários postados nesse blog. Nossa expectativa é de que a publicação dessa tradução da História do Pensamento Econômico sirva aos leitores brasileiros e de outros países de língua portuguesa como um meio de estimular o estudo das ideias dos economistas clássicos e de auxiliar na compreensão da crítica de Marx à economia política. Será também uma oportunidade para que esses mesmo leitores avaliem o legado de Isaac Rubin e homenageiem sua memória e seu trabalho, retirando-os do esquecimento e do silêncio em que foram lançados pelo stalinismo. Que o valor de Rubin possa ser reconhecido com justiça por aqueles que vieram depois.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Metodologia da Economia: o curso da Profa. Ana Maria Bianchi

Não são todos os cursos de economia no Brasil que oferecem disciplinas de Metodologia da Economia, isto é, disciplinas sobre fundamentos epistemológicos e metodológicos da teoria econômica. São ainda em menor número os cursos que podem contar com uma professora com a experiência e a competência de Ana Maria Bianchi. Professora do Departamento de Economia da FEA-USP entre 1976 e 2011, ela foi coordenadora do Programa de Pós-graduação em Economia daquela Universidade e representante da área de Economia junto à Capes. É autora de dezenas de artigos e capítulos de livros sobre a história do pensamento econômico, a metodologia da ciência econômica e a economia do trabalho. Em junho de 2011, Ana Maria aposentou-se, mas continuou vinculada à USP como professora voluntária.

Nesse ano, ela está oferecendo uma disciplina regular de graduação sobre Metodologia da Economia, que será filmada e disponibilizada no YouTube. Uma excelente oportunidade para quem quiser ter uma introdução abrangente e cuidadosa aos temas dessa disciplina.

O curso começou no dia 27/02/13 e terminará no final de junho. Depois de discutir os fundamentos da ciência econômica do ponto de vista da teoria do conhecimento e a da metodologia, o curso contemplará teorias de economistas que se debruçaram sobre questões metodológicas, entre os quais Stuart Mill, Lionel Robbins e Milton Friedman. A última seção do programa cobrirá algumas questões do debate contemporâneo, como a natureza retórica de economia e os avanços no campo da economia comportamental.

Assista abaixo o vídeo da primeira aula. As demais aulas podem ser encontradas aqui.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre a história da economia radical: a trajetória do Departamento de Economia da UMass (Amherst)

O vídeo abaixo, gravado em outubro de 2009, só foi divulgado recentemente. Nele, Donald Katzner, Stephen Resnick e Samuel Bowles, professores do Departamento de Economia da Universidade de Massachussets (Amherst), discutem a trajetória histórica daquele departamento que, a partir dos anos 1970, transformou-se num dos mais importantes centros de pesquisa e ensino de economia radical nos EUA.



Nas origens dessa trajetória, há exatos 40 anos, esteve a contratação simultânea de cinco professores - Samuel Bowles, Herbert Gintis, Stephen Resnick, Richard Wolff, and Richard Edwards - que, influenciados pelo pensamento econômico de Marx e pelos conflitos sociais do período, formaram o núcleo inicial que conformaria o novo perfil acadêmico da área de economia na UMass.

Os detalhes dessa história foram objeto de um livro recente - At the Edge of Camelot: Debating Economics in Turbulent Times, de Donald W. Katzner - e alguns de seus antecedentes, relacionados ao surgimento de um grupo de jovens economistas radicais em algumas das principais universidades americanas (especialmente em Harvard) e sua posterior migração para outros centros, podem ser encontrados num artigo de Tiago Mata: Migrations and Boundary Work: Harvard, Radical Economists, and the Committee on Political Discrimination.

O vídeo foi originalmente postado por Tomas Rotta no seu blog, Marx 21.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Críticas ao Qualis: um esclarecimento



Mal foi divulgado o novo Qualis da área de Economia e as críticas já começaram aqui e acolá. À luz do que eu disse em postagem anterior, é muito natural que elas existam e algumas são, a meu ver, pertinentes. Outras, porém, não se justificam e decorrem em larga medida do desconhecimento ou de ideias equivocadas a respeito do que é o Qualis. É fundamental notar que o Qualis não é e nem pode ser um ranking de revistas de Economia. Ele é, antes de tudo, uma ferramenta da Capes para a avaliação da pós-graduação da área de Economia. Dito isso, é preciso reconhecer que ele também é usado por outras instituições, como universidades e o CNPq, e para outros fins, como a avaliação de pesquisadores ou candidatos a vagas docentes, o que pode ser (e frequentemente é) um uso ainda mais problemático.

De todo modo, quando se tem em mente o objetivo da Capes ao criar essa ferramenta, algumas coisas que a primeira vista soam estranhas passam a fazer sentido. Por exemplo, há quem se surpreenda com a inclusão de uma revista como o International Journal of Hydrogen Energy no Qualis da área de Economia. A surpresa se explica pela expectativa de que o Qualis de Economia seja um ranking de periódicos dessa área. O que faz a Hydrogen Energy aí? A explicação, no entanto, é simples: queiramos ou não, o Qualis de Economia deve incluir todas as revistas em que algum professor de um programa de pós-graduação em Economia publicou um artigo. Esse artigo é parte da produção científica da área e deverá ser considerado para efeito da avaliação do programa de pós-graduação em que esse docente leciona.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O novo Qualis da área de Economia

A Capes acaba de publicar um comunicado sobre o novo Qualis da área de Economia para o triênio em curso. A classificação das revistas já foi atualizada e pode ser consultada no Web Qualis.

As principais novidades são:
1. a promoção de quatro revistas nacionais a B1, a saber: a Revista de Economia Política, a Estudos Econômicos, a Revista Brasileira de Economia, e a EconomiA (revista da Anpec).

2. o estabelecimento de um teto para o conceito atribuído a revistas de outras áreas: B2, se forem nacionais, e A2 se forem internacionais.

Como já tive oportunidade de comentar com alguns colegas, o documento expressou um compromisso possível entre os membros da comissão, da qual tomei parte. Duvido que alguém tenha saído da reunião satisfeito com o resultado. As razões para essa insatisfação, porém, são consideravelmente diversas e até mesmo opostas, o que expressa a dificuldade de nossa área no estabelecimento de critérios de classificação e na atribuição dos conceitos às revistas. Há divergências sobre critérios de avaliação de trabalhos acadêmicos, diferenças de compreensão teórica e metodológica sobre a área de economia e sobre a natureza do trabalho interdisciplinar, além de outros tipos de desacordo.

A comissão propôs que no início de 2013 seja organizada uma rodada de discussões sobre o Qualis, para tentar reduzir as divergências e pactuar critérios para os próximos triênios. É algo que julgo importante tentar, mesmo que a tarefa seja muito difícil. Se essa ideia prosperará e chegará a bom termo, é algo que vai depender de nossa iniciativa e capacidade de conversar mesmo divergindo. A ver.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Krugman e o comércio interestelar

Mesmo tendo sido educado na tradição teórica da economia neoclássica, Paul Krugman tem sido um crítico importante das limitações características desta forma de pensar a economia. Num famoso artigo escrito há dois anos, ele discutiu a incapacidade dos economistas de prever a chegada da crise de 2008 e, mais do que isso, sua cegueira para até mesmo a possibilidade de que uma crise como aquela derrubasse os mercados financeiros:

"Few economists saw our current crisis coming, but this predictive failure was the least of the field’s problems. More important was the profession’s blindness to the very possibility of catastrophic failures in a market economy. During the golden years, financial economists came to believe that markets were inherently stable — indeed, that stocks and other assets were always priced just right. There was nothing in the prevailing models suggesting the possibility of the kind of collapse that happened last year."