quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Resultados da avaliação trienal 2013 da pós-graduação brasileira (Capes)

Acabam de ser divulgados os resultados da avaliação trienal da pós-graduação brasileira, conduzida pela Capes. Os conceitos obtidos pelos dois programas de pós-graduação do Cedeplar foram excelentes. A Pós-graduação em Demografia manteve o conceito 7, nota máxima da avaliação. A Pós-graduação em Economia progrediu para do conceito 5 para o 6, que a coloca abaixo apenas dos programas da FGV-Rio, FGV-SP e USP. 

Confira a relação dos conceitos conferidos aos programas da área de Economia e de Planejamento Urbano e Regional / Demografia.

Registro aqui meus parabéns a todos os professores, alunos e funcionários do Cedeplar pelos resultados alcançados, bem como aos que vieram antes de nós e criaram uma cultura de trabalho acadêmico que é a razão principal do sucesso da instituição.



http://avaliacaotrienal2013.capes.gov.br/

sábado, 16 de novembro de 2013

Seminários do Professor Susumu Takenaga no Cedeplar

Estamos nos preparando para receber a visita do Professor Susumu Takenaga, da Faculdade de Economia da Universidade Daitobunka (Tóquio, Japão), que virá a Belo Horizonte na última semana de novembro, atendendo a um convite do grupo de pesquisa em Economia Política Contemporânea do Cedeplar. O objetivo dessa visita é a realização de reuniões de trabalho sobre um conjunto de manuscritos inéditos de Marx, textos que vem sendo investigados simultânea e independentemente pela equipe do Cedeplar e por pesquisadores japoneses, e que reúnem notas tomadas por Marx sobre as crises econômicas da década de 1860.

No que diz respeito ao grupo do Cedeplar, esse trabalho rendeu a publicação de um artigo em 2013, Notes on a crisis: the Exzerpthefte and Marx’s Method of Research and Composition, que discute o  manuscrito B113 (veja esse post sobre o artigo). O Prof. Takenaga, por sua vez, é membro, desde 1998, do comitê editorial japonês da Marx Engels Gesamtausgabe (MEGA), a edição histórico-crítica das obras completas de Karl Marx e Friedrich Engels. Seu grupo está encarregado da edição dos volumes 17, 18 e 19 da quarta seção da MEGA, que abrigarão os textos compilados por Marx em seus cadernos de excertos dos anos 1860, e que tratam de temas de interesse para sua pesquisa com vistas à redação d'O Capital.

Prof. Susumu Takenaga
(foto do site da Berliner Verein zur
Förderung der MEGA-Edition e.V.)
Nascido em 1949, Takenaga é mestre em Economia pela Universidade de Osaka. Doutorou-se, em 1984, pela Universidade de Paris X (Nanterre), onde defendeu uma tese sobre as diferenças entre a teoria marxiana do valor e a dos economistas clássicos. Essa tese foi publicada em 1986 com o título de Valeur, formes de la valeur et étapes dans la pensée de Marx.

Desde então, Takenaga tem desenvolvido pesquisas nas áreas de economia política marxista e de história do pensamento econômico, com ênfase nas obras de Ricardo e outros economistas clássicos. Publicou mais de 50 artigos e organizou vários livros, dos quais o mais recente é Ricardo on money and finance: a bicentenary reappraisal (Routledge, 2013). Foi também o responsável pela tradução japonesa do clássico Ensaios sobre a teoria marxista do valor, de autoria de Isaak Rubin. Ao contrário das traduções para línguas ocidentais, que se basearam na versão inglesa feita a partir da terceira edição russa, a versão japonesa tem um interesse particular por ter partido do texto ampliado da quarta e última edição russa, que teve uma circulação restrita em função da prisão de Rubin.

Além das reuniões de trabalho com os pesquisadores do Cedeplar, o Prof. Susumu Takenaga fará duas atividades públicas durante sua visita. Na quarta-feira, 27/11, ele apresentará o seminário Isaak Rubin and his essays on Marx's theory of money. Na oportunidade, vai discutir o Ensaio sobre a teoria do dinheiro de Marx, um texto pouco conhecido de Rubin, que permaneceu inédito até 2012 e que, atualmente, só está disponível em edições russa e alemã. A apresentação será apoiada no texto Essays on Marx’s theory of money of I. I. Rubin.




Na quinta-feira, 28/11, Takenaga apresentará o seminário The editorial work of the MEGA, em que discutirá os resultados do trabalho da equipe japonesa responsável pela edição da Marx Engels Gesamtausgabe (MEGA). A apresentação tomará por base o texto Marx’s excerpt notebooks on the crisis of the mid-1860’s.





Os dois eventos serão realizados no Auditório 3 da FACE-UFMG, às 16 horas, e são abertos a todos os interessados.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Seminário: A lei do valor na economia mundial

No dia 18 de novembro, segunda-feira, o Prof. João Machado Borges Neto virá ao Cedeplar para apresentar um seminário sobre A lei do valor na economia mundial.

João Machado Borges Neto
João Machado graduou-se em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1974. É mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1995) e doutor pela Universidade de São Paulo (2002), onde apresentou uma tese sobre o Duplo caráter do trabalho, valor e economia capitalista.

Foi professor da FACE-UFMG entre 1974 e 1979. Posteriormente, ingressou na PUC-SP, onde leciona nos cursos de graduação e pós-graduação em Economia. É autor, entre outros trabalhos, de 'As várias dimensões da lei do valor' (Nova Economia, v. 14, 2004), 'Por que o duplo caráter do trabalho é o ponto crucial em torno do qual gira a compreensão da Economia Política?' (Revista de Economia, v. 34, 2008) e Ruy Mauro Marini: dependência e intercâmbio desigual (Crítica Marxista, v. 33, 2011).
O seminário, organizado pelo grupo de pesquisa em Economia Política Contemporânea do Cedeplar, vai acontecer às 14h30, no auditório 3 da FACE-UFMG. A participação será aberta a todos os interessados.




Mészáros na UFMG

No próximo dia 26/11, o filósofo húngaro István Mészáros estará na UFMG para proferir a conferência A dialética em Lukács e o enigma do Estado e para lançar seu livro O conceito de dialética em Lukács.

Na mesma oportunidade, acontecerá o lançamento da tradução do segundo volume da Ontologia do ser social, obra póstuma do filósofo György Lukács.

Os eventos são uma realização do Programa de Pós-graduação em Filosofia da UFMG e contam com o apoio do Cedeplar, através do seu grupo de pesquisa em Economia Política Contemporânea.

Meszaros na UFMG

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Revista da UFMG: Cidades

Foi lançado ontem mais um número da Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, que dessa vez traz um dossiê temático sobre as Cidades. Os artigos são assinados por Francisco Jarauta, Edward Soja, Edésio Fernandes, Carlos Antônio (Cacá) Brandão e muitos outros estudiosos da questão urbana, ligados a UFMG e a outras instituições.

A importância dessa temática é evidente. Como diz o editorial desse número,
"A cidade é, por princípio, simultaneamente objeto e lugar da política e da ação
coletiva, espaço do aprendizado e do reconhecimento da alteridade, valor de uso que
dá sentido à noção de urbanidade. Entretanto, tal visão é permanentemente contestada
pela hegemonia do valor de troca manifesta na luta pelo espaço, que contrapõe
o direito à cidade às tendências privatizantes do chamado empreendedorismo urbano,
ao consumo do espaço ou ao caráter excludente da dinâmica imobiliária e da
produção do espaço de forma mais ampla. Por outro lado, as recentes manifestações
políticas que tomaram as ruas das principais cidades do país nas últimas semanas,
entre outros aspectos, contribuíram para resgatar o potencial político do espaço público,
fundamental para a existência das cidades e da vida urbana."
Seguindo a proposta editorial da revista, o tema é abordado por diferentes ângulos, da economia política às artes, da arquitetura à filosofia, do direito à literatura. A íntegra desse número pode ser obtida em meio eletrônico na página web da revista: https://www.ufmg.br/revistaufmg/

Para a próxima edição está previsto um dossiê sobre a Água (a chamada de trabalhos ainda está aberta até 31/10/13).

***

Criada em 1929, a Revista da Universidade Federal de Minas Gerais circulou até 1943, sendo retomada  posteriormente em dois momentos: de 1950 a 1955 e de 1962 a 1969.

Em 2012, a revista foi relançada por iniciativa da reitoria da UFMG e, em particular, do Prof. João Antonio de Paula, pró-reitor de Planejamento, que assinou naquele número um artigo sobre a história desse periódico.

domingo, 6 de outubro de 2013

Mais um capítulo do faroeste acadêmico

Entre as denúncias dessa semana está uma espécie de "Sokal affair" das ciências naturais, perpetrado em larga escala. Um artigo descrevendo a descoberta de propriedades anti-cancerígenas de um produto químico e intencionalmente recheado de erros básicos e problemas evidentes foi escrito e submetido a 304 revistas acadêmicas, todas de acesso aberto. O artigo passou por uma avaliação em 255 periódicos científicos: foi aceito em 157 e rejeitado apenas em 98... O episódio está bem retratado nessa matéria do Guardian.

Adicionar legenda
Quem me chamou a atenção para o assunto foi o André Caetano, através dessa matéria publicada no blog do Herton Escobar. De todo modo, vale a pena ler o texto completo do 'experimento' assinado por John Bohannon e publicado na Science com o título Who's Afraid of Peer Review? Apesar de longo, ele é interessante e esclarecedor e, no dizer do autor "reveal the contours of an emerging Wild West in academic publishing".

É importante notar que, entre as revistas que foram alvo do teste e caíram na trapaça, muitas eram ligadas a grandes editoras acadêmicas, como a Elsevier, a Wolters Kluwer e a Sage, empresas multinacionais sediadas na Europa e nos EUA.Como o próprio Bohannon afirma:
"Acceptance was the norm, not the exception. The paper was accepted by journals hosted by industry titans Sage and Elsevier. The paper was accepted by journals published by prestigious academic institutions such as Kobe University in Japan. It was accepted by scholarly society journals. It was even accepted by journals for which the paper's topic was utterly inappropriate, such as the Journal of Experimental & Clinical Assisted Reproduction."
Entre as revistas que caíram no engodo há, até mesmo, um periódico brasileiro, Genetics and Molecular Research, editado por uma fundação de Ribeirão Preto, a FUNPEC-RP (alguém conhece?).

Curt Rice, o autor desse outro texto publicado no Guardian, argumenta que o problema não está no modelo de acesso aberto, como o artigo da Science sugere, mas numa de suas modalidades, aquela em que o autor paga para ver o artigo publicado. Acho que ele está certo. No texto da Science, Bohannon se refere a essa modalidade como "the standard open-access 'gold' model: The author pays a fee if the paper is published." Sobre isso, há dois aspectos que merecem ser observados.

Em primeiro lugar, como Rice argumenta,
"this is a model that invites corruption. Set up a journal, accept some articles, charge a high fee, and publish the article on your website. This corruption is fed, of course, by the fact that researchers feel incredible pressure to publish more and more. It's also fed by a system that uses quantity as a proxy for quality. But it is a mistake to equate open access and author payment. There are traditional journals that require some payment, too, especially in connection with high typesetting costs" (grifo meu).
Em segundo lugar, não tenho certeza de que o 'gold model' seja mesmo o formato padrão nas revistas de acesso aberto. De fato, duvido... Como Rice informa, 65% das revistas listadas no Directory of Open Access Journals (DOAJ) "do not charge authors to publish but are funded instead by universities directly or by research councils or professional societies". É esse o modelo que prevalece, por exemplo, entre as revistas incluídas na SciELO, o bem sucedido modelo de publicação eletrônica de periódicos científicos mantido pela Fapesp e pela BIREME.

Pra concluir, entre as lições a tirar desse caso, fica a conclusão óbvia para a qual venho apontando há um bom tempo: é esse resultado previsível da difusão de um modelo de avaliação acadêmica que toma a quantidade (o número de artigos publicados) para avaliar a qualidade da pesquisa. Nenhuma surpresa. 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

IV Ciclo de Seminários em Metodologia e História do Pensamento Econômico

A exemplo do que aconteceu nos últimos três semestres, realizaremos em 2013 mais um Ciclo de Seminários em Metodologia e História do Pensamento Econômico
Trata-se do quarto evento de uma série organizada pelo Cedeplar-UFMG, através do seu Grupo de Pesquisa em Metodologia e História do Pensamento Econômico, e que visa promover uma maior integração entre os pesquisadores brasileiros das áreas de HPE e Metodologia da Economia, além de consolidar o Cedeplar como locals de referência no Brasil para todos aqueles envolvidos nessas duas áreas de pesquisa.

Estão previstas três sessões, que serão realizadas na manhã e tarde do dia 12 de junho (quarta-feira):

9h30 - 11h30
Convidado: Prof. Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS)
Tema: A gênese do desenvolvimentismo latino-americano
Texto-base da apresentação: Gênese e precursores do desenvolvimentismo no Brasil

14h00 - 16h00
Convidado: Prof. David Dequech (Unicamp)
Tema: As instituições da economia como disciplina e instituições na economia como objeto
Texto-base da apresentação: será divulgado oportunamente

16h15 - 18h15
Convidado: Prof. Pedro Garcia Duarte (USP)
Tema: Economics at MIT and its graduate networks: the early years
Texto-base da apresentação: será divulgado oportunamente






Os seminários serão abertos aos interessados e acontecerão no auditório 4 da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (ver o mapa). O evento conta com o apoio financeiro do Programa de Apoio Institucional a Eventos da UFMG (PAIE).

PS em 15/06/13: confira abaixo um pequeno registro fotográfico do seminário:


A teoria de Marx sobre as crises: um seminário com Jorge Grespan

Na próxima quarta-feira, 5 de junho, Jorge Grespan virá ao Cedeplar-UFMG para participar da série de seminários da área de Economia.

Grespan é professor do Departamento de História da USP e um estudioso da obra de Marx. Graduou-se em economia e em história naquela universidade e doutorou-se em filosofia pela Unicamp, com uma tese sobre o conceito de crise na Crítica da Economia Política. Esse trabalho deu origem ao livro O Negativo do Capital, cuja segunda edição foi recém-lançada.
 
Em seu seminário, Grespan retornará ao tema da crise na perspectiva marxiana. Para estimular o debate, ele sugere a leitura prévia dos textos A crise de sobreacumulação e Uma teoria para as crises.
 
O seminário acontecerá às 16 horas, no bloco de auditórios da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. O evento é aberto a todos os interessados.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Por que ler 'O Capital' hoje?



No mês de março, a nova tradução para o português do primeiro volume d'O Capital chegou às livrarias. Publicada pela Editora Boitempo, a tradução foi preparada por Rubens Enderle e será completada pelo lançamento de novas versões do segundo e terceiro volumes, previstas para acontecer em 2014 e 2015. O projeto é parte de um esforço mais amplo e ambicioso da editora, que pretende lançar parte significativa das obras de Karl Marx e Friedrich Engels em novas traduções.


A nova edição do Livro I d'O Capital

A coleção Marx-Engels já atingiu a marca de 16 volumes publicados. Começou com o lançamento de uma edição comemorativa dos 150 anos do Manifesto Comunista, em 1998. Depois foram lançadas as traduções de A sagrada família, em 2003, os Manuscritos econômico-filosóficos, em 2004, a Crítica da filosofia do direito de Hegel, em 2005, Sobre o suicídio, em 2006, e A ideologia alemã, em 2007 (essa última, também traduzida por Rubens Enderle).

Nos anos seguintes vieram outros textos importantes entre os quais a esperadíssima edição dos Grundrisse, em 2011. Quanto a O Capital, foi lançado em três formatos: capa dura, brochura e edição eletrônica.

No dia 20 de abril, o jornal Estado de Minas publicou duas matérias e três pequenos comentários sobre o lançamento, que ocuparam duas páginas do seu caderno semanal "Pensar". A primeira matéria, assinada por João Paulo Cunha, editor do caderno, comentou a nova tradução e chama a atenção para as dificuldades envolvidas na leitura da obra magna de Marx:
"O capital, de Karl Marx (1818-1883), não é um livro fácil. Talvez seja até mesmo um dos mais complexos de seu tempo, pela soma de conhecimentos que traz, que exige um leitor informado sobre filosofia, história, economia e política, entre outras disciplinas. Além disso, ao inaugurar um campo do saber, faz uso de um método, a dialética, inspirada na filosofia de Hegel, mas com um foco definido na análise crítica do modo de produção de riqueza baseado no mercado. Em outras palavras: um novo objeto, uma nova ciência e um novo método. A isso se soma o volume da obra, que alcança milhares de páginas em quatro volumes, sendo que apenas no primeiro deles Marx pôs o ponto final."
A segunda matéria é assinada por Rubens Enderle, o tradutor da nova edição, que comenta os desafios do trabalho. O primeiro foi a necessidade de preservar a precisão conceitual:
"Por exemplo, é preciso preservar a distinção sutil entre termos como “mais-trabalho” (Mehrarbeit), “sobretrabalho” (Überarbeit) e “trabalho excedente” (Surplusarbeit). Há também conceitos de caráter filosófico, dotados de uma forte carga hegeliana, conceitos que o próprio Marx utilizara em suas obras juvenis, como, por exemplo, “alienação” (Entäusserung, Entfremdung), “estranhamento” (Entfremdung), “determinidade” (Bestimmtheit), “suprassunção” (Aufhebung), “materialidade” (Materiatur) etc."
O segundo desafio, segundo o tradutor, foi colocado pela necessidade de transitar pelos diferentes estilos adotados por Marx ao longo do texto, em que se alternam trechos de natureza filosófica com capítulos analíticos e longas narrativas que descrevem as condições de vida da classe operária, sem mencionar as inúmeras referências a obras e personagens literários como Quixote e o Fausto.

São esclarecedores, por outro lado, seus comentários sobre a relação entre a nova tradução e o texto d'O Capital estabelecido na edição MEGA-2 (isto é, a Marx-Engels-Gesamtausgabe, a segunda tentativa de editar as obras completas de Marx e Engels, inciada nos anos 1970 e ainda em curso). É preciso tomar com boa dose de cautela o material de divulgação da editora quando afirma que a nova tradução foi feita "pela primeira vez a partir da edição preparada no âmbito do projeto alemão MEGA-2". Por um lado, é certo que o tradutor está a par dos critérios filológicos e editoriais adotadas na edição MEGA-2, por outro ele mesmo reconhece que:
"No caso do livro 1 de O capital (a 4ª edição), a edição da Mega não traz muitas novidades em relação à edição da Werke (MEW), pois o livro 1 foi editado ainda durante a vida de Marx, e ganhou mais duas edições depois de sua morte. Portanto, o texto-base da Mega é praticamente o mesmo da MEW, com exceção das notas da edição, que em alguns casos suprem lacunas da MEW. Há, certamente, outras vantagens da edição da Mega em relação à da MEW: por exemplo, a Mega traz no seu volume de apêndice todas as passagens da edição francesa de O capital que não foram incorporadas por Marx na edição alemã. Seria interessante apresentar isso ao leitor brasileiro, mas não foi possível incorporar essas passagens em nossa edição, já que isso tornaria o volume grande demais (na verdade, exigiria desmembrar o livro em dois volumes, o que é desfavorável do ponto de vista comercial).
A grande diferença se encontra nos livros 2 e 3, que Marx deixou na forma de manuscritos (montados por Engels naquilo que hoje conhecemos como livros 2 e 3 de O capital). A Mega, além da versão de Engels, edita os manuscritos em sua integralidade, o que revela enormes diferenças em relação à montagem feita por Engels. Em minha tradução dos livros 2 e 3 do Capital, serão incluídas as variantes mais importantes (por mim selecionadas) dos manuscritos. Trata-se, portanto, de um trabalho não só de tradução, mas de pesquisa em mais de 2 mil páginas de manuscritos. O livro 2 deve sair no início de 2014, e o livro 3 em 2015."
Na verdade, os quinze volumes que compõem a segunda seção da edição MEGA-2 incluem todas as versões do primeiro volume d'O Capital, além de todos os manuscritos preparatórios dos 3 volumes. Isso significa que, no que diz respeito ao primeiro volume d'O Capital, a MEGA-2 inclui  não apenas o texto da quarta edição alemã, a partir da qual foram feitas todas as traduções para o português, mas também o texto integral das edições anteriores (a de 1867, a de 1872 e a 1883) e o da tradução francesa publicada entre 1872 e 1875. É importante notar que as variantes dessas edições são, por vezes, significativas, como é o caso, por exemplo, das várias versões do capítulo 1. Se isso não diminui em nada o mérito da nova tradução, fica claro que ainda não dispomos de uma edição à altura dos critérios da MEGA-2. Na verdade, não temos sequer uma tradução do primeiro volume como a tradução espanhola feita por Pedro Scaron e publicada pela editora Siglo XXI, que tomou por base o texto da segunda edição alemã e acrescentou a ele variantes de outras edições.

Finalmente, o caderno Pensar trouxe três pequenos depoimentos na forma de respostas à questão "por que ler O capital hoje?". Tive a satisfação de ser um dos convidados a responder a pergunta, ao lado de Lucília Neves, professora da UnB e da UFMG, e de Frederico Santana Rick, cientista social e militante da Assembleia Popular e das pastorais sociais. Para encerrar, tomo a liberdade de reproduzir aqui o meu depoimento, como uma espécie de convite a leitura desse livro fundamental: 
"Ao longo de todo o século XX, a morte de Marx e de seu legado teórico foi anunciada repetidas vezes, ora por seus adversários – filósofos, políticos, economistas –, ora mesmo por aqueles que até anteontem professavam o marxismo. O simples fato de que o anúncio foi repetido periodicamente revela que o defunto teima em não se deixar sepultar. De fato, a partir de 2008, a crise econômica nos EUA e na Europa provocou um interesse renovado pela leitura das obras de Marx: jornais como o New York Times e The Times tem falado de um “retorno a Marx” e até mesmo a insuspeita revista Time reconheceu em matéria recente a “vingança de Marx” sobre seus adversários.
Se é óbvio que o capitalismo contemporâneo é, em alguns aspectos, distinto daquele que havia no século XIX, não é menos verdade que sua natureza fundamental continua a mesma. O capitalismo é, como Marx mostrou de modo pioneiro, um sistema econômico expansivo e inexoravelmente propenso a crises. O capitalismo ainda é aquele examinado por Marx e O Capital é, de longe, a melhor análise já feita sobre as estruturas fundamentais do capitalismo, suas determinações essenciais, “as leis econômicas que regem o movimento das sociedades modernas”. Por essa razão, ler O Capital continua importante e atual, leitura que é incontornável para quem quiser entender as questões do nosso tempo."



Karl Marx por &&&Creative




domingo, 5 de maio de 2013

Os melhores romances policiais de 2012

No início do ano passado escrevi um post sobre os melhores romances policiais que eu li em 2011. É de longe o texto mais lido deste blog e houve até quem me agradecesse pessoalmente pelas sugestões. Vai daí que resolvi deixar as reservas de lado e retomar o tema, listando aqui os melhores livros do gênero entre aqueles que eu li em em 2012.

A exemplo dos que compuseram a primeira lista, são romances escritos por autores diferentes, com estilos bem diversos. Predominam escritores nórdicos: Henning Mankell, Arnaldur Indridason e Jo Nesbo. Comentei sobre esses autores no post anterior. Eles estão em evidência e por isso são traduzidos e lançados no Brasil com regularidade, mas o que importa é que são realmente bons no ofício.

Outro autor que integra a minha lista é um inglês que, até então, eu não conhecia. David Peace nasceu em 1967, em Yorkshire, e é o autor de uma série em quatro volumes - Red Riding Quartet - da qual os dois primeiros foram publicados no Brasil: 1974 e 1977. Os dois volumes que completam a série, 1980 e 1983, ainda não foram traduzidos. São romances inspirados em assassinatos ocorridos no norte da Inglaterra entre 1975 e 1980 e atribuídos ao estripador de Yorkshire. O texto de Peace é diferente de tudo que eu já tinha lido: seco, ritmado,com cortes rápidos. Não sei se agradará a outros, mas foi a melhor surpresa do ano na área.

Completando a relação, Donna Leon, uma americana radicada há décadas na Itália e autora de uma série de romances policiais que tem Veneza e seus arredores por cenário e, como protagonista, o impagável Commissario Guido Brunetti. Nesses livros, a autora retrata com simpatia e cumplicidade os costumes e hábitos dos moradores da Itália, uma sociedade marcada pela corrupção e pelo crime, mas também pelo amor à cultura, pela indignação diante da violência e pela capacidade de celebrar a vida.

Por fim, faço duas ressalvas. A primeira é que não tenho a pretensão de ter lido toda a literatura policial lançada em 2012, de tal modo que é possível que algum bom título tenha escapado à minha atenção. A segunda é que minha lista exclui intencionalmente os livros de alguns autores que tenho o hábito de ler mas que considero bons demais pra tomarem parte de qualquer lista sob o risco de não deixarem espaço pra mais ninguém (os livros de um Simenon, por exemplo).

Dito isso, são esses os melhores romances policias que eu li em 2012:

A quinta mulher, de Henning Mankell.
Tradução de Luciano Machado.
Cia das Letras, 2012.

Vozes, de Arnaldur Indridason
Vozes, de Arnaldur Indridason.
Tradução de Álvaro Hattnher.
Cia das Letras, 2012.

O Redentor, de Jo Nesbo. 
Tradução de Grete Skevik.
Editora Record, 2012.



Headhunters
Headhunters, de Jo Nesbo.
Tradução de Kristin Lie Garrubo.
Editora Record, 2012.

1974, de David Peace.
Tradução de Rodrigo Peixoto.
Benvirá, 2012.

Remédios mortais, de Donna Leon.
Tradução de Carlos Alberto Bárbaro.
Cia das Letras, 2012.


O fardo da nobreza, de Donna Leon.
Tradução de Carlos Alberto Bárbaro.
Cia das Letras, 2012.



quinta-feira, 11 de abril de 2013

Isaac Rubin e a história do pensamento econômico

Na área de economia política, um dos lançamentos aguardados no ano de 2013 é o da tradução brasileira de Istoriya Ekonomicheskoi mysli, obra do grande economista russo, Issac Rubin. O volume, um manual de história do pensamento econômico para ensino universitário, foi publicado em 1926  e reeditado algumas vezes nos anos seguintes. Tinha originalmente 39 capítulos que, na segunda edição, foram acrescidos de mais um. Eles tratam do mercantilismo e da fisiocracia, do pensamento econômico de Adam Smith e David Ricardo, chegando até ao período do declínio da Escola Clássica. Foi originalmente pensado para ser lido e estudado juntamente com um volume de Clássicos da economia política do século XVII até meados do século XIX, uma compilação organizada por Rubin de textos de economistas clássicos e pré-clássicos.

O lançamento dessa tradução para o português vem sendo preparada pela Editora da UFRJ, tendo a frente do projeto a Professora Maria Malta e o saudoso Professor Carlos Nelson Coutinho, que faleceu no ano passado, antes de ver o livro publicado. Em 2012, eles nos convidaram - a mim e ao meu colega e amigo, João Antonio de Paula - para escrever uma apresentação do livro. O convite foi aceito de pronto e o resultado é esse texto que acaba de sair na série de Textos para Discussão do Cedeplar-UFMG:
João Antonio de Paula, Hugo E. A. da Gama Cerqueira. Isaac I. Rubin e sua história do pensamento econômico. (Texto para discussão, 469) Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2013.
Frontispício da edição russa de 1929 da
História do Pensamento Econômico.
O texto, ao qual é possível ter acesso através do link acima, faz uma breve exposição sobre a biografia de Rubin. Em seguida, discute as tentativas de Karl Marx de escrever uma história crítica da economia política e, à luz desses elementos, analisa o sentido do esforço teórico de Rubin em sua História do Pensamento Econômico.

Lembro que a importância de Isaac Rubin e de seu livro sobre A teoria marxista do valor foram o tema de um dos primeiros comentários postados nesse blog. Nossa expectativa é de que a publicação dessa tradução da História do Pensamento Econômico sirva aos leitores brasileiros e de outros países de língua portuguesa como um meio de estimular o estudo das ideias dos economistas clássicos e de auxiliar na compreensão da crítica de Marx à economia política. Será também uma oportunidade para que esses mesmo leitores avaliem o legado de Isaac Rubin e homenageiem sua memória e seu trabalho, retirando-os do esquecimento e do silêncio em que foram lançados pelo stalinismo. Que o valor de Rubin possa ser reconhecido com justiça por aqueles que vieram depois.




quinta-feira, 4 de abril de 2013

Metodologia da Economia: o curso da Profa. Ana Maria Bianchi

Não são todos os cursos de economia no Brasil que oferecem disciplinas de Metodologia da Economia, isto é, disciplinas sobre fundamentos epistemológicos e metodológicos da teoria econômica. São ainda em menor número os cursos que podem contar com uma professora com a experiência e a competência de Ana Maria Bianchi. Professora do Departamento de Economia da FEA-USP entre 1976 e 2011, ela foi coordenadora do Programa de Pós-graduação em Economia daquela Universidade e representante da área de Economia junto à Capes. É autora de dezenas de artigos e capítulos de livros sobre a história do pensamento econômico, a metodologia da ciência econômica e a economia do trabalho. Em junho de 2011, Ana Maria aposentou-se, mas continuou vinculada à USP como professora voluntária.

Nesse ano, ela está oferecendo uma disciplina regular de graduação sobre Metodologia da Economia, que será filmada e disponibilizada no YouTube. Uma excelente oportunidade para quem quiser ter uma introdução abrangente e cuidadosa aos temas dessa disciplina.

O curso começou no dia 27/02/13 e terminará no final de junho. Depois de discutir os fundamentos da ciência econômica do ponto de vista da teoria do conhecimento e a da metodologia, o curso contemplará teorias de economistas que se debruçaram sobre questões metodológicas, entre os quais Stuart Mill, Lionel Robbins e Milton Friedman. A última seção do programa cobrirá algumas questões do debate contemporâneo, como a natureza retórica de economia e os avanços no campo da economia comportamental.

Assista abaixo o vídeo da primeira aula. As demais aulas podem ser encontradas aqui.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre a história da economia radical: a trajetória do Departamento de Economia da UMass (Amherst)

O vídeo abaixo, gravado em outubro de 2009, só foi divulgado recentemente. Nele, Donald Katzner, Stephen Resnick e Samuel Bowles, professores do Departamento de Economia da Universidade de Massachussets (Amherst), discutem a trajetória histórica daquele departamento que, a partir dos anos 1970, transformou-se num dos mais importantes centros de pesquisa e ensino de economia radical nos EUA.



Nas origens dessa trajetória, há exatos 40 anos, esteve a contratação simultânea de cinco professores - Samuel Bowles, Herbert Gintis, Stephen Resnick, Richard Wolff, and Richard Edwards - que, influenciados pelo pensamento econômico de Marx e pelos conflitos sociais do período, formaram o núcleo inicial que conformaria o novo perfil acadêmico da área de economia na UMass.

Os detalhes dessa história foram objeto de um livro recente - At the Edge of Camelot: Debating Economics in Turbulent Times, de Donald W. Katzner - e alguns de seus antecedentes, relacionados ao surgimento de um grupo de jovens economistas radicais em algumas das principais universidades americanas (especialmente em Harvard) e sua posterior migração para outros centros, podem ser encontrados num artigo de Tiago Mata: Migrations and Boundary Work: Harvard, Radical Economists, and the Committee on Political Discrimination.

O vídeo foi originalmente postado por Tomas Rotta no seu blog, Marx 21.