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É importante notar que, entre as revistas que foram alvo do teste e caíram na trapaça, muitas eram ligadas a grandes editoras acadêmicas, como a Elsevier, a Wolters Kluwer e a Sage, empresas multinacionais sediadas na Europa e nos EUA.Como o próprio Bohannon afirma:
"Acceptance was the norm, not the exception. The paper was accepted by journals hosted by industry titans Sage and Elsevier. The paper was accepted by journals published by prestigious academic institutions such as Kobe University in Japan. It was accepted by scholarly society journals. It was even accepted by journals for which the paper's topic was utterly inappropriate, such as the Journal of Experimental & Clinical Assisted Reproduction."Entre as revistas que caíram no engodo há, até mesmo, um periódico brasileiro, Genetics and Molecular Research, editado por uma fundação de Ribeirão Preto, a FUNPEC-RP (alguém conhece?).
Curt Rice, o autor desse outro texto publicado no Guardian, argumenta que o problema não está no modelo de acesso aberto, como o artigo da Science sugere, mas numa de suas modalidades, aquela em que o autor paga para ver o artigo publicado. Acho que ele está certo. No texto da Science, Bohannon se refere a essa modalidade como "the standard open-access 'gold' model: The author pays a fee if the paper is published." Sobre isso, há dois aspectos que merecem ser observados.
Em primeiro lugar, como Rice argumenta,
"this is a model that invites corruption. Set up a journal, accept some articles, charge a high fee, and publish the article on your website. This corruption is fed, of course, by the fact that researchers feel incredible pressure to publish more and more. It's also fed by a system that uses quantity as a proxy for quality. But it is a mistake to equate open access and author payment. There are traditional journals that require some payment, too, especially in connection with high typesetting costs" (grifo meu).Em segundo lugar, não tenho certeza de que o 'gold model' seja mesmo o formato padrão nas revistas de acesso aberto. De fato, duvido... Como Rice informa, 65% das revistas listadas no Directory of Open Access Journals (DOAJ) "do not charge authors to publish but are funded instead by universities directly or by research councils or professional societies". É esse o modelo que prevalece, por exemplo, entre as revistas incluídas na SciELO, o bem sucedido modelo de publicação eletrônica de periódicos científicos mantido pela Fapesp e pela BIREME.
Pra concluir, entre as lições a tirar desse caso, fica a conclusão óbvia para a qual venho apontando há um bom tempo: é esse resultado previsível da difusão de um modelo de avaliação acadêmica que toma a quantidade (o número de artigos publicados) para avaliar a qualidade da pesquisa. Nenhuma surpresa.
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