Frontispício da terceira edição em russo da Teoria marxista do valor. |
De acordo com Luiz Gonzaga Belluzzo, que assina o prefácio à edição brasileira, o livro de Rubin representa "a mais bem sucedida tentativa de diferenciar a problemática marxista do valor daquela proposta pelos economistas clássicos". Ele contrasta a análise de Smith e Ricardo sobre o problema do valor, centrada na investigação do nexo causal entre variações de produtividade do trabalho e flutuações dos valores de troca, com a teoria proposta por Marx, que avança rumo à análise da forma do valor, isto é, da natureza do vínculo que une os produtores numa sociedade mercantil capitalista. Disto resulta o entendimento do papel central que a teoria do fetichismo da mercadoria cumpre no pensmento econômico de Marx.
O curioso é que, apesar da importância do livro de Rubin e de sua boa recepção entre os pesquisadores brasileiros, pouco sabemos a respeito de sua vida e do restante de sua obra. Temos notícia de que ele assinou e publicou outros trabalhos, como um artigo sobre a problemática do valor e do trabalho abstrato, além de um livro sobre a história do pensamento econômico, ambos traduzidos para o inglês. Porém, são textos pouco conhecidos e lidos por um número reduzido de pessoas. Quanto ao que se sabe sobre sua vida, suas origens, sua trajetória política e profissional, a situação é ainda mais desalentadora. Aquilo que conhecemos está restrito a algumas informações isoladas, datas e fatos desconexos, que não permitem representar ou compreender sua biografia.
Diga-se de passagem que esta situação não é muito distinta da que prevalece entre estudiosos de outros países, para os quais a vida e a obra de Rubin permanecem igualmente desconhecidas. A razão deste quadro, em grande medida, é de ordem política. A exemplo de tantos outros, Rubin sofreu as consequências da perseguição stalinista que, para além da catástrofe que representou para milhões de pessoas, lançou na penumbra e condenou ao esquecimento a vida e obra de militantes e pesquisadores que recusaram-se à submissão ao regime.
Em 2008, quando organizamos o primeiro seminário do grupo de pesquisa em Economia Política Contemporânea do Cedeplar-UFMG, escolhi para tema de minha apresentação um destes perseguidos pelo stalinismo e quase esquecidos da história, David Riazanov. Pesquisei sobre sua vida, seu trabalho a frente do Instituto Marx Engels e sua tentativa de editar as obras completas destes dois pensadores, a MEGA. Em 2009, escrevi um artigo reunindo o que pude levantar sobre Riazanov, artigo que está sendo publicado em 2010, simultaneamente em livro e revista. Para o próximo seminário do grupo, programado para novembro, decidi preparar uma apresentação sobre a biografia e o pensamento de Rubin. A exemplo da pesquisa sobre Riazanov, a preparação desta fala envolverá um esforço meio detetivesco de buscar informações espalhadas em fontes pouco acessíveis, confrontá-las e chegar a alguma conclusão com base nas evidências disponíveis. Um esforço trabalhoso, mas mais que compensado pela satisfação de poder contribir para reduzir um pouco nossa ignorância sobre alguém que merece ser melhor conhecido. Os primeiros passos desta investigação e os seguintes pretendo contar aqui. Ficam para os próximos posts.
Isaak Illich Rubin (1886-1937) |
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