quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Rosa Luxemburgo

Comemoram-se, em 2011, os 140 anos do nascimento de Rosa Luxemburgo. Ela nasceu em 5 de março de 1871, em Zamość, na Polônia (uma região então submetida ao Império Russo) e morreu em 15 de janeiro de 1919, quando foi presa e executada por um grupo paramilitar de direita, o Freikorps, que mais tarde apoiaria os nazistas, mas que naquele ano operava sob as ordens do governo social-democrata liderado por Friedrich Ebert.

Rosa Luxemburgo (1871-1919)
Escritora, ativista, revolucionária, economista e pensadora polítíca, a obra de Rosa sempre foi, para mim, um importante contraponto aos traços autoritários da tradição bolchevique. Seu internacionalismo e antimilitarismo, sua crítica apaixonada do capitalismo e sua defesa lúcida e sem concessões da liberdade e do socialismo fazem dela uma pensadora atual, alguém que tem muito o que dizer sobre o nosso tempo. Um tempo em que continuamos perante o dilema que ela formulou de modo clássico: "ou passagem ao socialismo, ou regressão à barbárie".


Para Rosa, democracia e socialismo são inseparáveis. "Liberdade", dizia, "é sempre a liberdade de quem pensa de modo diferente". Ao mesmo tempo, sabia que "a vitória do socialismo não cairá do céu como uma fatalidade" e que "a tarefa histórica do proletariado, quando toma o poder, consiste em instaurar a democracia socialista no lugar da democracia burguesa, e não em suprimir toda democracia. A democracia socialista não começa somente na Terra prometida, quando tiver sido criada a infra-estrutura da economia socialista, como um presente de Natal, já pronto, para o bom povo que, entretanto, apoiou fielmente o punhado de ditadores socialistas. A democracia socialista começa com a destruição da dominação de classe e a construção do socialismo."

As comemorações dos 140 anos do anscimento de Rosa serão acompanhadas de ao menos duas iniciativas editoriais importantes. A primeira, e mais ampla, é a edição em inglês de suas obras completas, pela Verso, com o apoio da Rosa-Luxemburg-Stiftung e da Karl Dietz Verlag (estas últimas, também responsáveis pela edição em alemão de suas obras e correspondência completas). A coleção deverá conter 14 volumes reunindo cartas, artigos, livros, panfletos e manuscritos, alguns dos quais só descobertos recentemente.

O ponto de partida deste empreendimento editorial é o lançamento do volume The Letters of Rosa Luxemburg, contendo uma seleção abrangente de sua correspondência, entre as quais 190 cartas dirigidas a importantes líderes do movimento operário e socialista de sua época, como Leo Jogiches, Karl Kautsky, Clara Zetkin e Karl Liebknecht.

Outro lançamento que merece registro é o do volume Rosa Luxemburg and the Critique of Political Economy, organizado por Riccardo Bellofiore, professor da Universidade de Bergamo (Itália). O livro reúne 13 capítulos, além de uma introdução, que em sua maior parte estão voltados para a análise do pensamento econômico de Rosa: as teorias do desenvolvimento e das crises capitalistas, as teorias do valor e da distribuição, a circulação monetária e as finanças internacionais, mas também aspectos de seu pensamento político.

Não tenho notícia de qualquer iniciativa do gênero no Brasil, mas quem quiser conhecer um pouco mais sobre esta pensadora marxista pode começar por uma consulta ao site da Fundação Rosa Luxemburg. De seus principais textos, há algumas boas traduções recentes de:
1. A acumulação de capital (São Paulo: Abril Cultural, 1984), volume publicado na coleção Os Economistas, com uma apresentação de Paulo Singer;
2. Textos escolhidos (São Paulo: Expressão Popular, 2009), coletânea organizada por Isabel Loureiro com traduções feitas diretamente do alemão e que está disponível on-line.
Sobre sua vida e obra, pode-se consultar, entre outros, os seguintes textos:
1. Método dialético e teoria política (Sao Paulo: Paz e Terra, 1978), de Michel Löwy, que traz três ensaios importantes para a compreensão do pensamento de Rosa;

2. Rosa Luxemburg – os dilemas da ação revolucionária (São Paulo: Editora UNESP, 1995) e Rosa Luxemburgo – vida e obra (São Paulo: Expressão Popular, 2000), ambos de Isabel Loureiro.

3. Socialismo ou barbárie (São Paulo: Estação das Artes, 2009), volume que reúne entrevistas com Paul Singer, Michael Löwy, Angela Mendes de Almeida, Isabel Loureiro, Gilmar Mauro e Paulo Arantes, tratando da recepção da obra de Rosa no Brasil e de sua atualidade para pensar os impasses contemporâneos da esquerda e as alternativas para sua superação.

4. os ensaios "Rosa Luxemburgo como marxista" e ""Notas críticas sobre a 'Crítica da Revolução Russa', de Rosa Luxemburgo", de Lukács, publicados em História e consciência de classe (São Paulo, Martins Fontes, 2003).

5. o capítulo "Rosa Luxemburg e a renovação do marxismo", de Oskar Negt, publicado no volume 3 da História do marxismo (Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984).

6. e A crise mundial do imperialismo e Rosa Luxemburgo (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979), do velho militante socialista Mário Pedrosa.
No cinema, a vida de Rosa foi retratada em Die Geduld der Rosa Luxemburg, longa metragem lançado em 1986 e dirigido por Margarethe von Trotta, com Barbara Sukowa no papel principal, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes no mesmo ano.

Feliz aniversário, Rosa!


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PS. sobre iniciativas editorias em torno da obra de Rosa Luxemburgo no Brasil, veja-se esse comentário escrito posteriormente.

2 comentários:

  1. Valeu Hugo, um ótimo guia para se começar a estudar a Rosa.
    Nós do Núcleo do PSOL na UFMG começamos o pensamento dela, que me parece uma das melhores concepções sobre o socialismo e o processo revolucionário. Iniciamos com a leitura do artigo "Questões de organização da social-democracia Russa", de 1904. Muito bom.
    Afinal, socialismo só com liberdade, não é?
    Enfim, é isso. O comentário foi só para falar que existem pessoas que lêem esse blog. Continue atualizando-o.

    Abraço,

    André Veloso.

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  2. Valeu, André! O tempo anda curto, mas não desisti da ideia.

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