sábado, 19 de fevereiro de 2022

Nos 75 anos da revista Kriterion (1947-2022)

 

Num ano de tantas efemérides, é preciso lembrar que também estamos comemorando os 75 anos da revista Kriterion. Criada para ser a revista da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais, ela é publicada atualmente sob a responsabilidade do Departamento de Filosofia da UFMG.

No editorial que abre o primeiro volume, o Professor Braz Pellegrino (1896-1969) -- então diretor da Faculdade, médico e professor de língua e literatura italiana, além de pai do escritor e psicanalista Hélio Pellegrino -- afirmava:
 
"Não é possível compreender-se uma Faculdade de Filosofia de cuja trama espiritual esteja ausente esta necessidade de criar, esta curiosidade intelectual que não se farta com o já feito mas procura incessantemente exercitar sua força em novos empreendimentos e novas pesquisas.
 
Desta busca renovada e renovadora se constitui, inclusive, o espírito universitário, infelizmente tão escasso entre nós, viciado que está por uma compreensão burocrática do conhecimento, como se uma universidade fosse apenas uma fábrica de técnicos e especialistas, e não de homens, humanizados pela ciência, pelo pensamento e pela beleza, capazes de desvendar horizontes novos e levar ao acervo cultural dos séculos a sua pequenina contribuição."
 
A revista, informava o editorial, pretendia assumir o papel de "porta-voz da cultura em terras de Minas", propondo-se a tarefa de arregimentar pessoas ligadas por "uma mesma espécie de interesse intelectual" e reunir contribuições nos campos das belas letras, da filosofia e da ciência, "em torno de um núcleo comum de trabalho".
 
O texto completava:
 
"A isto, a esta tarefa arregimentadora, nos propomos, com a melhor das intenções, dispostos a contribuir efetivamente para a marcha da cultura no Estado. Oxalá sejamos compreendidos".
 
É natural que a abrangência e o escopo da publicação tenham mudado ao longo destes três quartos de século. Com o passar do tempo, a publicação redefiniu-se como uma revista de filosofia e conquistou público e autores nacionais e internacionais. Não resta dúvida, porém, de que os objetivos propostos em 1947 foram alcançados. As inquietações e a compreensão do espírito universitário que animaram sua criação continuam atuais. Por esta razão, não é difícil para nós compreender as motivações dos seus iniciadores, convocados que estamos a combater o mesmo vício da "compreensão burocrática do conhecimento", ainda que sob novas formas.
 
Por tudo isso, fica o registro do meu singelo agradecimento a todos -- editores, autores, revisores, secretários e trabalhadores associados à produção gráfica da revista -- que cooperaram para mantê-la viva. Quem já se meteu neste tipo de empreendimento sabe ou pode imaginar toda sorte de dificuldades e obstáculos que tiveram que ser vencidos, e com certeza não foram poucos. 
 
Parabéns, Kriterion!
 
 

 

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