quarta-feira, 19 de junho de 2024

A nova edição italiana do Livro I d'O Capital, da Einaudi

Acaba de ser lançada pela Einaudi a nova edição italiana do Livro I d'O Capital, editada por Roberto Fineschi , com traduções feitas por ele e por Stefano Breda, Gabriele Schimmenti e Giovanni Sgrò.

Trata-se da mais completa tradução da obra de Marx: é baseada na 4ª edição alemã de 1890, mas o texto traz todas as variantes das edições alemãs anteriores (1867, 1872/3, 1883) e da edição francesa (1872-75), além de uma nova tradução do assim chamado Capítulo VI (inédito) e, se não bastasse, também do manuscrito redigido por Marx em 1871/2 ao preparar a 2ª edição alemã (Ergänzungen und Veränderungen zum ersten Band des “Kapitals”).
 
Numa palavra, o volume traz todos os textos que Marx escreveu com a intenção de realizar o I livro de "O Capital".
 
Naturalmente, o trabalho apoiou-se na edição histórico-crítica das obras de Marx e Engels (a MEGA2) e, como as fotos deixam ver, o projeto gráfico é belíssimo, à altura da obra.
 
Meus sinceros parabéns ao Roberto e a todos que trabalharam para realizar esta edição, que será muito útil não apenas para os italianos, mas para todos os leitores de línguas latinas!
 

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Kevin Anderson no Cedeplar

O Professor Kevin Anderson apresentará um seminário no Cedeplar no dia 20/09 (quarta-feira, às 14 horas, no auditório 4 da FACE). O tema da apresentação será "Marx’s Late Writings: Concepts of revolutionary change and of alternatives to capitalism".

É a segunda vez que Anderson vem ao Cedeplar e uma excelente oportunidade para discutir os trabalhos teóricos de Marx nos últimos anos de sua vida.

O evento, que integra a série de seminário da Pós-graduação em Economia, é aberto a todos/as interessados/as. 



domingo, 13 de agosto de 2023

José Murilo de Carvalho e a UFMG

 

José Murilo de Carvalho partiu hoje. Era um dos grandes intelectuais brasileiros, um dos maiores pensadores do Brasil. 
 
Foi aluno da FACE na primeira metade dos anos 1960, quando a Faculdade ainda abrigava um curso de Sociologia e Política. Mais tarde, de 1969 a 1978, foi docente da UFMG e um dos responsáveis pela implantação da pós-graduação em Ciência Política na Universidade.
 
Foi, sobretudo, um amigo dedicado da Universidade, que reconheceu sua contribuição concedendo-lhe em 2001 a Medalha de Honra UFMG, premiação dedicada aos egressos que se destacaram por realizações em prol da sociedade.
 
José Murilo veio inúmeras vezes à FACE e ao Cedeplar para participar de seminários, conferências e outros eventos, ocasiões em que compartilhou conosco sua inteligência e fino humor com generosidade e desprendimento.
 
Numa destas ocasiões, em 2014, voltou a UFMG à convite dos professores Clélio Campolina Diniz, à época nosso Reitor, e João Antonio de Paula. Veio para apresentar uma reflexão sobre a trajetória do Brasil nos 50 anos posteriores a 1964. Sua fala foi publicada na revista Nova Economia e começa com lembranças de seus anos de estudante na FACE e na UFMG. Ao final, José Murilo conclui com um comentário sobre o papel da universidade na construção e consolidação de uma república democrática no Brasil. São estes os trechos que reproduzo nas imagens abaixo, como forma de celebrar sua memória entre nós.
 
José Murilo fará uma falta imensa.
 
PS. a íntegra do texto está disponível em acesso aberto.
 




 

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Nos 300 anos do nascimento de Adam Smith

Há exatos 300 anos, em 5 de junho de 1723, um bebê foi batizado na Igreja de São Brício (St Brisse ou Bryce), na cidade portuária de Kirkcaldy, situada a 10 milhas de Edimburgo, no lado norte do estuário do rio Forth. 
 
Adam Smith (1723-1790)
Adam Smith (1723-1790)
Seu nome era Adam Smith.
 
Ninguém sabe dizer ao certo o dia em que ele nasceu. A julgar por seu aspecto frágil e enfermo e pelos costumes da época (a preocupação em evitar que as crianças falecessem sem receber o batismo e a salvação), é provável que ele tenha nascido no mesmo dia 5 de junho em que foi batizado. 
 
Seu pai, também chamado Adam, faleceu em janeiro de 1723, cinco meses antes do nascimento do menino, que foi criado por sua mãe, Margaret Douglas, com quem manteve um convívio longo e marcado por afeição e ternura.
 
Segundo Dugald Stewart, o primeiro biógrafo de Smith, o carinho e a atenção da mãe pelo menino fizeram com que Margaret Douglas fosse censurada por tratá-lo com "uma indulgência sem limites". E completa: "mas isso não teve efeitos desfavoráveis em seu temperamento ou disposição". De fato, "ele desfrutou da rara satisfação de poder retribuir à mãe seu afeto, com todas as atenções que a gratidão filial poderia ditar, durante o longo período de sessenta anos."
 
Margaret Douglas
Margaret Douglas
Numa carta escrita ao seu editor em 1784, logo após a morte de sua mãe, Smith afirmaria que "...embora a morte de uma pessoa com noventa anos de idade seja, sem dúvida, um evento bastante natural e, portanto, de se esperar e para o qual deve-se estar preparado, devo dizer-lhe, como já disse a outras pessoas, que não consigo deixar de sentir, mesmo nesta hora, que a separação final desta pessoa -- que certamente me amava mais do que qualquer outra jamais amou ou amará, e a quem eu certamente amava e respeitava mais do que jamais amarei ou respeitarei qualquer outra pessoa -- é um golpe muito pesado sobre mim."
 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Barsa, a enciclopédia

A Folha publicou recentemente uma beleza de matéria pra quem é daquela geração que pegou os tempos áureos das enciclopédias e, dentre elas, a Barsa. Trabalho escolar naquela época era sinônimo de "consultar a enciclopédia". Não sei que fim levou a coleção que havia lá em casa, mas a Mirador Internacional, editada pelo Houaiss, eu guardo até hoje (e olhe que me toma um espaço precioso!).

Algumas coisas parecem se repetir na memória das pessoas que viveram o fetiche da Barsa. Aquele nome estranho no último verbete do último volume (Zwingli), por exemplo. A beleza das capas vermelhas gravadas com letras douradas. O fato de que os livros costumavam ficar numa prateleira mais alta da estante, o que, lá em casa, rendeu alguns tombos mais ou menos graves na tentativa temerária de alcançar algum volume. A pretensão de ler todos os volumes -- li alguns -- assim, de enfiada, verbete por verbete. E, claro, o preço altíssimo da coleção, criando a prática do pagamento em prestações. Também pudera: eram muitos volumes, com encadernação luxuosa e papel de boa qualidade, sem falar no custo da produção do texto.

O artigo me fez lembrar ainda da figura do vendedor de bibliotecas, um sujeito bem apessoado e de boa conversa, que era recebido na sala de visitas das casa de classe média e carregava uma mala com exemplares de amostra dos pesados volumes, além de folders explicativos e cópias de contratos. Profissão extinta, até onde sei. Bem que cabia como personagem de O fim do sem fim, mas não lembro de ver a figura no filme.

O texto traz algumas informações que eu não tinha e que chegam a ser chocantes. Entregar o verbete de Brasília pro Niemeyer não me parece uma ideia sensata, muito menos a ideia de confiar o verbete sobre Ayrton Senna pra sua irmã escrever... insano. Também fiquei surpreso de saber que ainda são vendidos volumes impressos da Barsa, não mais de porta em porta, mas por meio do site BarsaShop, uma modernidade... A propósito, os 18 volumes estão sendo vendidos pela bagatela de R$2.695,00. É preço promocional, quase comprei, mas me contive a tempo... 

Por fim, fiquei curioso de ler a dissertação do Pedro Terres, citada no texto. E curioso, também, de saber o nome do autor da matéria, omitido sem dó pela Folha. Ah, a Folha... Outrora tão importante, hoje... mas isso já é outro assunto.




sábado, 11 de fevereiro de 2023

Sobre Arembepe, Canoa Quebrada e o capitalismo

 Guardadas as muitas e grandes diferenças -- seja do lugar, seja do período e seu contexto político --, Canoa Quebrada foi para a minha geração o que Arembepe tinha sido para a geração que nos antecedeu. Visitei Canoa Quebrada pela primeira vez em 1982 ou 83, quando não havia estrada, energia elétrica ou pousadas. Todo mundo ia pra lá em busca de uma experiência "alternativa", como se dizia então, ou pelo menos pra comprar um anel ou pingente de casco de tartaruga com o famoso desenho da lua e estrela.

A fama do lugar cresceu e, com ela, o 'progresso', despertando justificadas preocupações. Me lembro que, no velho 'Sistema de Bolsas' da FACE (o PET de hoje em dia), chegamos a sonhar com um projeto de pesquisa para estudar in loco e in tempore opportuno a chegada do capitalismo ao extremo sul do litoral cearense, um pretexto mais que apropriado pra justificar uma boa e longa temporada naquela que era uma aldeia isolada de pescadores. Havia sinais claros e preocupantes de monetização das relações locais de produção (gostaram?), como o crescimento do comércio de latões d'água trazidos no lombo dos jegues para viabilizar o banho diário dos turistas ou os valores cobrados em dinheiro, e não em sorrisos, pelo aluguel de ganchos nas casas dos locais, que nos davam o direito de pendurar nossas redes pra passar a noite.

O fato, infelizmente, é que o nosso projeto de pesquisa não foi em frente. Nem chegou a ser escrito porque, apesar de jovens e animados, nós já sabíamos que nem o CNPq, nem a Capes seriam capazes de perceber o que havia de meritório na nossa proposta, frustrando qualquer expectativa de financiamento, por menor que fosse.

Por isso mesmo, devo admitir minha surpresa quando abri o Valor deste final de semana e me deparei com uma matéria sobre Arembepe que, na verdade, é uma resenha de um livro que está sendo lançado e que conta estórias passadas naquela aldeia nos anos 1970. O livro é escrito por três publicitários e jornalistas e não tem qualquer pretensão acadêmica. Mas a matéria menciona a certa altura um estudante de antropologia da Universidade Columbia, de nome Conrad Kottak que, tendo passado 16 temporadas em Arembepe, escreveu um livro com um título que poderia muito bem ser o do nosso malfadado projeto de pesquisa: Assault on Paradise: the Globalization of a Little Community in Brazil.

Li e reli este parágrafo diversas vezes, sem acreditar no que estava dito. Tive que consultar o Google para aplacar a incredulidade e quase recorri ao ChatGPT pra acabar com qualquer dúvida. O fato é que Conrad Phillip Kottak não apenas existe, como é professor emérito da Universidade de Michigan e fez extensos trabalhos de campo etnográficos no Brasil e em Madagascar (este aí sabe viver). O livro -- adivinhem -- também existe: foi publicado originalmente em 2006 e está na quarta edição (atualizada, é claro), e está anunciado na Amazon por US$26.99 mais despesas de envio (ou por míseros R$775,00 na loja brasileira da mesma Amazon, se for de sua preferência).

Resta o consolo de saber que alguém fez o que sonhamos um dia fazer. E a constatação de que, pelo visto, as agências de fomento americanas eram mais sensíveis a este tipo de investigação do que eu podia imaginar naquele longínquo 1982. Bom pra eles.

(Nas fotos: Canoa Quebrada e Arembepe, em outros tempos).

 


 

 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Some historical anniversaries of authors and works related to economics that we'll celebrate in 2023

I made this short list of historical anniversaries of authors and works related to economics that we'll celebrate in 2023. No purpose intended, just for fun. Of course, it is far from complete. 

Adam Smith (1723-1790)Starting with the most important date: the 300th anniversary of Adam Smith's birth. 

Adam Ferguson (1723-1816)It's also 300 years since Adam Ferguson was born.

The 300 years of the birth of Paul Heinrich Dietrich von Holbach (Baron d'Holbach). 

The 300 years of the birth of Dr. Richard Price. 

 The 300 years of the birth of Pedro Rodríguez de Campomanes. 

The 300th anniversary of the death of Bishop William Fleetwood. 

The 300 years of the second edition of The Fable of the Bees: Or private vices, publick benefits, by Bernard Mandeville. 

The 300th anniversary of the edition of the Dictionnaire universel du commerce, by Jacques Savary de Bruslons. 

The 250 years of the birth of James Mill. 

250 years since the birth of Jean-Charles-Léonard Simonde de Sismondi. 

The 250 years since the edition of Table raisonnée des principes de l'économie politique, by Pierre Samuel DuPont de Nemours. 

David Ricardo (1772-1823)The 200 years of the death of David Ricardo. 

The 200th anniversary of the birth of John Elliot Cairnes. 

The 200 years since the birth of Reverend Thorold Rogers. 

The 200th anniversary of the birth of John Kells Ingram. 

The 200th anniversary of the publication of The Measure of Value, by Thomas R. Malthus. 

The 200th anniversary of the publication of Grundriss der Kameralwissenschaft oder Wirthschaftslehre für encyklopädische Vorlesungen, by Karl Heinrich Rau.

 The 200th anniversary of the publication of Thoughts and Details on the High and Low Prices of the Thirty Years from 1793 to 1822, by Thomas Tooke. 

John Stuart Mill (1806-1873)In the second half of the 19th century, the number of authors and books multiplied. I mention just a few anniversaries that seems to be the most important dates: 

The 150th anniversary of the death of John Stuart Mill. 

The 150 years since the publication of Lombard Street: A description of the money market, by Walter Bagehot. 

The 150 years since the creation of the Verein für Socialpolitik. 

Now, going back to the 17th century, there are other commemorative dates that deserve to be recorded, starting with the 400th anniversary of the birth of William Petty.

The 400th anniversary of the birth of Thomas Papillon and the 400th anniversary of the death of Leonardo Lessius. 

The 400th anniversary of the publication of Edward Misselden's The Circle of Commerce

The 400th anniversary of the publication of The Center of the Circle of Commerce, by Gerard de Malynes.

 And, finally, the 350th anniversary of the publication of De officio hominis et civil juxta legem naturalem, by Samuel Pufendorf.