segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Críticas ao Qualis: um esclarecimento



Mal foi divulgado o novo Qualis da área de Economia e as críticas já começaram aqui e acolá. À luz do que eu disse em postagem anterior, é muito natural que elas existam e algumas são, a meu ver, pertinentes. Outras, porém, não se justificam e decorrem em larga medida do desconhecimento ou de ideias equivocadas a respeito do que é o Qualis. É fundamental notar que o Qualis não é e nem pode ser um ranking de revistas de Economia. Ele é, antes de tudo, uma ferramenta da Capes para a avaliação da pós-graduação da área de Economia. Dito isso, é preciso reconhecer que ele também é usado por outras instituições, como universidades e o CNPq, e para outros fins, como a avaliação de pesquisadores ou candidatos a vagas docentes, o que pode ser (e frequentemente é) um uso ainda mais problemático.

De todo modo, quando se tem em mente o objetivo da Capes ao criar essa ferramenta, algumas coisas que a primeira vista soam estranhas passam a fazer sentido. Por exemplo, há quem se surpreenda com a inclusão de uma revista como o International Journal of Hydrogen Energy no Qualis da área de Economia. A surpresa se explica pela expectativa de que o Qualis de Economia seja um ranking de periódicos dessa área. O que faz a Hydrogen Energy aí? A explicação, no entanto, é simples: queiramos ou não, o Qualis de Economia deve incluir todas as revistas em que algum professor de um programa de pós-graduação em Economia publicou um artigo. Esse artigo é parte da produção científica da área e deverá ser considerado para efeito da avaliação do programa de pós-graduação em que esse docente leciona.



A coisa funciona, portanto, da seguinte maneira: a comissão que elabora o Qualis recebe da Capes uma lista de periódicos nos quais os professores de programas de pós-graduação da área de Economia publicaram artigos. A comissão não é informada do nome dos autores ou do título dos artigos, apenas da lista de periódicos. Cabe a ela atribuir conceitos a essas revistas, que serão empregados na avaliação dos programas da área. Assim, se algum professor de um doutorado ou mestrado em Economia publicou um artigo no Brazilian Journal of Physics ou no Journal of Veterinary Diagnostic Investigation essas revistas terão necessariamente que constar do Qualis de Economia.

A pergunta seguinte é: com qual conceito? Nos últimos triênios prevaleceu a regra de que revistas de outras áreas devem receber um conceito que corresponda à moda dos conceitos atribuídos à essa revista pelas outras áreas de avaliação. Além disso, ao se proceder a avaliação de cada um dos programas de pós-graduação, estabelecia-se um teto para o número de pontos que o programa pode alcançar com publicações em periódicos de outras áreas: eles não podem ultrapassar 30% do total de pontos obtidos pelo programa com publicações em periódicos. Em resumo, a produção em revistas de outras áreas era apreciada e reconhecida, mas ao mesmo tempo se exigia que a maior parte da pontuação fosse obtida em revistas da área.

Nesse ano, a lista de periódicos enviada à comissão pela Capes continha 946 títulos, dos quais 454 ainda não classificados no Qualis da área. Desses, parte foi descartada por não se tratar propriamente de periódico acadêmico. Boa parte dos títulos restantes era de periódicos de outras áreas (note-se, porém, que mesmo sendo muitos eles reúnem uma parcela pequena da produção da área, que se concentra majoritariamente em revistas de economia). Para sua classificação no novo Qualis, a comissão optou por manter a regra adotada nos triênios anteriores, estabelecendo, porém, um teto de B2 para o conceito de revistas nacionais de outras área e de A2 para as internacionais (veja-se o item 2 do comunicado sobre o Qualis). Assim, um artigo publicado na Nature, que é avaliada com o conceito A1 pela imensa maioria das áreas, será considerado A2 pela área de EconomiaQuanto ao teto de 30% da pontuação em periódicos, é provável que essa regra também seja mantida pela comissão que avaliará os programas, mas é uma atribuição dela, e não da comissão responsável por formular o Qualis, definir isso.


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