terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Krugman e o comércio interestelar

Mesmo tendo sido educado na tradição teórica da economia neoclássica, Paul Krugman tem sido um crítico importante das limitações características desta forma de pensar a economia. Num famoso artigo escrito há dois anos, ele discutiu a incapacidade dos economistas de prever a chegada da crise de 2008 e, mais do que isso, sua cegueira para até mesmo a possibilidade de que uma crise como aquela derrubasse os mercados financeiros:

"Few economists saw our current crisis coming, but this predictive failure was the least of the field’s problems. More important was the profession’s blindness to the very possibility of catastrophic failures in a market economy. During the golden years, financial economists came to believe that markets were inherently stable — indeed, that stocks and other assets were always priced just right. There was nothing in the prevailing models suggesting the possibility of the kind of collapse that happened last year."

Em 1978, porém, Paul Krugman ainda era um jovem professor universitário submetido à pressão de ter que publicar artigos que lhe rendessem visibilidade, prestígio e, por consequência, uma posição mais estável na carreira acadêmica - o famoso publish or perish. Para aliviar o stress, ele escreveu naquele período um pequeno artigo cujo manuscrito foi preservado por Joshua Gans

Paul Krugman
Uma cópia das 15 páginas datilografadas numa velha máquina de escrever e que compunham a versão original do texto foi publicada no blog do Krugman há algum tempo. Mais de trinta anos depois de escrito, o artigo foi publicado com pequenas alterações numa respeitável revista acadêmica, a Economic Inquiry, no seu volume de outubro de 2010 (esta versão está disponível para download no site da revista). Não há muita informação sobre como o texto foi parar nas páginas da revista (o que eu só fiquei sabendo pela leitura deste post do Steve Keen).

Como o próprio Krugman afirma, "this article is a serious analysis of a ridiculous subject, which is of course the opposite of what is usual in economics". De fato, o texto é uma paródia do tipo de coisas que muitas vezes são publicadas em revistas acadêmicas de economia: artigos sobre temas importantes e que chegam a conclusões absurdas a partir de pressupostos e métodos que são comumente empregados pelos economistas convencionais ou neoclássicos.

O tema do texto, teoria do comércio, é uma das especialidades de Krugman. Neste trabalho ele propõe estender as teorias convencionais ao estudo do comércio interestelar. Como afirma no resumo, o artigo
"...is chiefly concerned with the following question: how should interest charges on goods in transit be computed when the goods travel at close to the speed of light? This is a problem because the time taken in transit will appear less to an observer traveling with the goods than to a stationary observer. A solution is derived from economic theory, and two useless but true theorems are proved."
Para economistas, a leitura pode ser proveitosa e divertida. Não deixa de ser curioso lembrar que o próprio Krugman explicou seu interesse em estudar economia como algo derivado de suas leituras de ficção científica. Numa entrevista concedida logo após ganhar o Prêmio Nobel, em 2008, ele confessava:
"Oh, that's a little embarrassing. I was -- I don't know how many of your viewers watch science fiction, read science fiction, but this very old series by Isaac Asimov, the "Foundation" novels, in which the social scientists who understand the true dynamics save civilization.
And that's what I wanted to be. And it doesn't exist, but economics is as close as you can get. So when I was a teenager, I really got into it."
Sem comentários...

Nenhum comentário:

Postar um comentário