Terminei a leitura de A Princesa de Gelo, o primeiro livro da escritora sueca Camilla Läckberg. A autora é apresentada como "a nova Agatha Christie", alguém que "acaba de receber a coroa de nova rainha do crime". Frases desse tipo me fizeram pensar três
vezes antes de adquirir o livro, mas resolvi desconsiderar esse marketing de quinta categoria e dar uma chance à autora.
Feita a leitura, confesso que achei a trama mediana. Em minha opinião, está longe de chegar ao nível alcançado por outros autores nórdicos, como Stieg Larsson, Henning Mankell, Jo Nesbo ou Arnaldur Indridason que, para mim, compõem o primeiro time do romance policial escandinavo; não chega nem mesmo ao nível de Karin Fossum ou Asa Larsson. A comparação com Agatha Christie é inteiramente despropositada e, para chegar a "rainha do crime", Camilla Läckberg tem ainda um longuíssimo caminho a percorrer. De todo modo, o livro recebeu o Grand prix de littérature policière em 2008 para romances estrangeiros e esse foi somente o primeiro trabalho da autora, publicado originalmente em 2003, quando ela não tinha mais que 29 anos. Nem tudo está perdido, portanto.
Mas o que me motivou a escrever esse comentário não foi a qualidade do livro ou os méritos de sua autora, e sim os problemas da versão para o português, lançada no Brasil em 2010, pela Editora Planeta. A julgar pelos créditos da ficha catalográfica, a tradução foi feita por Marco Syrayama de Pinto a partir da versão em inglês (o título original mencionado na ficha é The ice princess, ao invés do sueco Isprinsessan). Lamentavelmente, trata-se de uma tradução tão cheia de erros, que torna a leitura um desafio para a paciência de qualquer um.
Admiro o trabalho de tradutores, trabalho tão importante e difícil quanto pouco reconhecido e mal remunerado. De fato, uma boa tradução costuma passar desapercebida: quando as soluções da versão são boas, temos a impressão de que estamos diante de um texto escrito na mesma língua em que o estamos lendo. Por essa razão, a relevância de uma boa tradução só costuma ser percebida quando nos deparamos com um trabalho mal feito, com muitos problemas. É justamente o caso dessa versão publicada pela Planeta, com erros de ortografia e concordância, e alguns trechos que mais parecem traduzidos por máquina, sem qualquer revisão.
Para que ninguém pense que estou exagerando, o que dizer de uma frase como "Que jovem linda essa é."(p. 53)? Ou essa outra: "Neve devia ter caído sobre a cidade recentemente..." (p. 79)? E mais essa: "Ela depositou suas luvas sobre o banco do parque e se sentou encima (sic) dela (sic) como proteção." (p. 79)?
Em resumo, me senti enganado como consumidor e como leitor. E, o que é pior, fiquei ainda mais decepcionado depois de postar um breve comentário na página da editora no Facebook e constatar que ele foi simplesmente apagado, sem que ninguém se desse ao trabalho de oferecer alguma resposta... Uma lástima!
Camilla Läckberg pode não ser uma Agatha Christie, ou um Stieg Larsson, mas merece mais respeito. E os leitores brasileiros também.
Eu li a segunda edição, mas ainda persistem diversas falhas.
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