quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Revista da UFMG: Cidades

Foi lançado ontem mais um número da Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, que dessa vez traz um dossiê temático sobre as Cidades. Os artigos são assinados por Francisco Jarauta, Edward Soja, Edésio Fernandes, Carlos Antônio (Cacá) Brandão e muitos outros estudiosos da questão urbana, ligados a UFMG e a outras instituições.

A importância dessa temática é evidente. Como diz o editorial desse número,
"A cidade é, por princípio, simultaneamente objeto e lugar da política e da ação
coletiva, espaço do aprendizado e do reconhecimento da alteridade, valor de uso que
dá sentido à noção de urbanidade. Entretanto, tal visão é permanentemente contestada
pela hegemonia do valor de troca manifesta na luta pelo espaço, que contrapõe
o direito à cidade às tendências privatizantes do chamado empreendedorismo urbano,
ao consumo do espaço ou ao caráter excludente da dinâmica imobiliária e da
produção do espaço de forma mais ampla. Por outro lado, as recentes manifestações
políticas que tomaram as ruas das principais cidades do país nas últimas semanas,
entre outros aspectos, contribuíram para resgatar o potencial político do espaço público,
fundamental para a existência das cidades e da vida urbana."
Seguindo a proposta editorial da revista, o tema é abordado por diferentes ângulos, da economia política às artes, da arquitetura à filosofia, do direito à literatura. A íntegra desse número pode ser obtida em meio eletrônico na página web da revista: https://www.ufmg.br/revistaufmg/

Para a próxima edição está previsto um dossiê sobre a Água (a chamada de trabalhos ainda está aberta até 31/10/13).

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Criada em 1929, a Revista da Universidade Federal de Minas Gerais circulou até 1943, sendo retomada  posteriormente em dois momentos: de 1950 a 1955 e de 1962 a 1969.

Em 2012, a revista foi relançada por iniciativa da reitoria da UFMG e, em particular, do Prof. João Antonio de Paula, pró-reitor de Planejamento, que assinou naquele número um artigo sobre a história desse periódico.

domingo, 6 de outubro de 2013

Mais um capítulo do faroeste acadêmico

Entre as denúncias dessa semana está uma espécie de "Sokal affair" das ciências naturais, perpetrado em larga escala. Um artigo descrevendo a descoberta de propriedades anti-cancerígenas de um produto químico e intencionalmente recheado de erros básicos e problemas evidentes foi escrito e submetido a 304 revistas acadêmicas, todas de acesso aberto. O artigo passou por uma avaliação em 255 periódicos científicos: foi aceito em 157 e rejeitado apenas em 98... O episódio está bem retratado nessa matéria do Guardian.

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Quem me chamou a atenção para o assunto foi o André Caetano, através dessa matéria publicada no blog do Herton Escobar. De todo modo, vale a pena ler o texto completo do 'experimento' assinado por John Bohannon e publicado na Science com o título Who's Afraid of Peer Review? Apesar de longo, ele é interessante e esclarecedor e, no dizer do autor "reveal the contours of an emerging Wild West in academic publishing".

É importante notar que, entre as revistas que foram alvo do teste e caíram na trapaça, muitas eram ligadas a grandes editoras acadêmicas, como a Elsevier, a Wolters Kluwer e a Sage, empresas multinacionais sediadas na Europa e nos EUA.Como o próprio Bohannon afirma:
"Acceptance was the norm, not the exception. The paper was accepted by journals hosted by industry titans Sage and Elsevier. The paper was accepted by journals published by prestigious academic institutions such as Kobe University in Japan. It was accepted by scholarly society journals. It was even accepted by journals for which the paper's topic was utterly inappropriate, such as the Journal of Experimental & Clinical Assisted Reproduction."
Entre as revistas que caíram no engodo há, até mesmo, um periódico brasileiro, Genetics and Molecular Research, editado por uma fundação de Ribeirão Preto, a FUNPEC-RP (alguém conhece?).

Curt Rice, o autor desse outro texto publicado no Guardian, argumenta que o problema não está no modelo de acesso aberto, como o artigo da Science sugere, mas numa de suas modalidades, aquela em que o autor paga para ver o artigo publicado. Acho que ele está certo. No texto da Science, Bohannon se refere a essa modalidade como "the standard open-access 'gold' model: The author pays a fee if the paper is published." Sobre isso, há dois aspectos que merecem ser observados.

Em primeiro lugar, como Rice argumenta,
"this is a model that invites corruption. Set up a journal, accept some articles, charge a high fee, and publish the article on your website. This corruption is fed, of course, by the fact that researchers feel incredible pressure to publish more and more. It's also fed by a system that uses quantity as a proxy for quality. But it is a mistake to equate open access and author payment. There are traditional journals that require some payment, too, especially in connection with high typesetting costs" (grifo meu).
Em segundo lugar, não tenho certeza de que o 'gold model' seja mesmo o formato padrão nas revistas de acesso aberto. De fato, duvido... Como Rice informa, 65% das revistas listadas no Directory of Open Access Journals (DOAJ) "do not charge authors to publish but are funded instead by universities directly or by research councils or professional societies". É esse o modelo que prevalece, por exemplo, entre as revistas incluídas na SciELO, o bem sucedido modelo de publicação eletrônica de periódicos científicos mantido pela Fapesp e pela BIREME.

Pra concluir, entre as lições a tirar desse caso, fica a conclusão óbvia para a qual venho apontando há um bom tempo: é esse resultado previsível da difusão de um modelo de avaliação acadêmica que toma a quantidade (o número de artigos publicados) para avaliar a qualidade da pesquisa. Nenhuma surpresa.